A meio da tarde fui ao espírito natalício, isto é, ao Almada
Fórum. É um dos maiores é nosso e está aqui perto. Perto pensava eu, para
chegar não foi fácil, acho toda a gente resolveu ir ao espírito natalício o
mesmo tempo que eu.
Não foi tarefa simples conseguir um lugar para o carrito,
parece que é difícil estacionar no espírito natalício, os parques estão
completos, gostamos muito do nosso espírito natalício, é tão bonito, ou mais,
que os outros.
Logo no parque se via, se sentia, se ouvia, o Natal. Os
carros com as luzes e piscas ligados e a apitar freneticamente pareciam um
enfeite daqueles que as autarquias instalam para nosso contentamento. Muito
bonito e as pessoas estavam, de facto, com um ar contente, a entrar ou sair
cheias de embrulhos de espírito natalício, até pareciam indiferentes às
dificuldades que nestas alturas, é claro, sempre se esquecem um pouco.
Lá dentro do espírito natalício havia gente que vou-vos
contar. Mas estava um ambiente tão simpático e aconchegante com o aquecimento
no máximo e as pessoas ao colo umas das outras, que se deseja que o Natal não
acabe. Foi uma experiência fantástica, como agora se diz. Para terem uma ideia
da passagem pelo espírito natalício, deixo-vos uns fragmentos do que fui
captando.
“Ó Cajó não tesqueças
que temos que ir ao JUMBO buscar os camarões que são mais baratos que no LIDL.
Tá bem Micas, aproveita-se e levamos as bejecas.”
“Crise? Qual crise?
Crise é para mim que não me sai o Euromilhões.”
“Vanessa não insistas.
Inda em Agosto, pelos anos, te comprei um telemóvel, não te vou já comprar
outro. Na tua idade não precisas de uma banda muito larga, essa chega muito
bem.”
“É sempre a mesma
coisa e eu não aprendo. A tua mãe está lá dentro da loja há uma hora, na volta
não compra nada nesta e temos que apanhar outra seca.”
“Crise? Qual crise?
Crise é para mim que não me sai o Euromilhões.”
“Não me chateies com
os livros. Ainda não leste todos os que estão lá em casa.”
“Não André, já te
disse, não te compro isso do drone. Para andar no ar chega a tua cabeça.”
“Tatiana, por amor de
Deus, 12 prendas chegam. Queres mais alguma coisa pede à tua avó.”
“Não Miguel, é ao contrário,
o Natal é que passas com a mãe e na passagem de ano é que vais com o teu pai.”
“Crise? Qual crise?
Crise é para mim que não me sai o Euromilhões.”
“Ó mãe deixa-me pôr
outra moeda na máquina. Ainda só andei seis vezes. Vá lá.”
“Vou ali à FNAC comprar
aquela cena do GPS. Fica fixe no carro. O people tem todo.”
“Eu bem te disse que
não era boa ideia trazer a velhota. Nunca mais vamos sair daqui.”
Logo que me apanhei com os livros e os discos que só hoje
consegui ir procurar no espírito natalício ... fugi.
Não, não gosto particularmente do espírito natalício, deste
espírito natalício, mas … é difícil contrariar a tradição.
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