O texto de Luís Aguiar-Conraria no Público, “Para lá dos exames, que escolas preparammelhor os alunos? As privadas ou as públicas?”, merece leitura. Reflecte
sobre a diferença no percurso universitário de alunos que realizaram o ensino secundário em
estabelecimentos de ensino privado e dos sesu colegas que estudaram em escolas públicas. Recorre a dados de um
trabalho realizado pela Universidade do Porto.
(…) o ranking das
escolas feito com base nas notas que os seus estudantes tiveram nos exames não
tem qualquer relação com o ranking feito com base na performance dos estudantes
do 1.º ano da universidade. Quando digo que não tem nada a ver, estou a pecar
por defeito. Na verdade, a correlação entre os dois rankings é mesmo negativa!
Por exemplo, entre as escolas que estão no top 5 dos rankings obtidos a partir
dos exames nacionais, duas estão também entre as 5 piores quando se analisa a
performance dos seus ex-alunos na universidade: o Externato Ribadouro do Porto
e o Colégio D. Diogo de Sousa. Curiosamente, ambas estão referenciadas como
escolas que sistematicamente inflacionam as notas dos seus alunos. (…)
Lembrei-me que em 2013 tinha aqui colocado um texto justamente sobre a
mesma questão, “Apesar de tudo a escola pública resiste”. O que escrevi foi também baseado num trabalho da Universidade do Porto
divulgado em 2012.
Recupero um excerto.
(…)
Um estudo realizado
pela Universidade do Porto vem confirmar que os estudantes do ensino superior
oriundos do ensino secundário do subsistema privado, embora com padrão superior
de notas nos exames nacionais, revelam ao longo do ensino superior, no primeiro
ciclo, um pior desempenho que os alunos provenientes das escolas públicas. Dito
de outra maneira, os alunos do ensino privado parecem melhor preparados para os
exames e para a entrada no ensino superior, hipotecada às notas dos exames
finais e das avaliações internas traduzidas nos rankings, e menos preparados para as exigências do ensino superior que os alunos
das escolas públicas.
A situação não traz
nada de novo, creio que quem conhece razoavelmente o sistema educativo
português conhece circunstâncias em que a frequência de alguns estabelecimentos
de ensino privado é "premiada" com classificações internas mais
"generosas", por assim dizer. (Algumas destas escolas estão
referenciadas por Luís Aguiar- Conraria e com inquéritos da IGEC)
O mesmo estudo levanta
também sérias reservas a leituras apressadas dos rankings e à sua construção.
Como muitas vezes aqui tenho referido a forma como nos colocamos perante a
questão estruturante, "medimos o que valorizamos ou valorizamos o que
medimos" contamina tudo que se possa fazer em termos de medida e
classificação em política educativa.
Nesta matéria é ainda
relevante sublinhar que as diferenças que se encontram no acesso ao superior
por parte de alunos do ensino secundário privado se esbatem pois, nos 10% de
alunos que terminam a formação com notas mais altas, predominam os alunos
oriundos do secundário público o que é interessante e, como disse, não
surpreendente.
Entre nós é frequente,
e do meu ponto de vista desajustado, dicotomizar de forma excessiva a questão
educativa entre privado vs público. Na verdade, entendo a existência de um
subsistema educativo de ensino privado como absolutamente necessária para, por
um lado permitir alguma liberdade de escolha, ainda que condicionada, por parte
das famílias e, por outro lado, como forma de pressão sobre a qualidade do
ensino público. (…)
Parece que a consistência destes indicadores está para durar.
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