Andam negros os tempos para os professores. Sempre que
escrevo sobre esta questão, agressões e insultos a professores, e lamentavelmente faço-o
com regularidade, é sempre com preocupação e mal-estar, daí a insistência
repetitiva.
As notícias sobre agressões a professores, cometidas por
alunos ou encarregados de educação, continuam com demasiada frequência embora nem todos os episódios sejam
divulgados. Aliás, são conhecidos casos de direcções que desincentivam as
queixas dado o “incómodo” e “publicidade negativa” que trará a divulgação.
Os testemunhos de professores vitimizados são perturbadores e exigem atenção e intervenção.
Cada um dos recorrentes episódios é, obviamente, um caso de
polícia mas não pode ser “apenas” mais um caso de polícia e julgo que, mais do
que ser notícia, importaria reflectir nos caminhos que seguimos.
Apesar da repetição é preciso insistir dada a frequência e
gravidade das situações de agressão a docentes. Esta questão, embora seja
objecto de rápidos discursos de natureza populista e securitária, parece-me
complexa e de análise pouco compatível com um espaço desta natureza.
Começo por uma breve reflexão em torno de três eixos: a
imagem social dos professores, a mudança na percepção social dos traços de
autoridade e o sentimento de impunidade que me parecem fortemente ligados a
este fenómeno.
Já aqui tenho referido que os ataques, intencionais ou não,
à imagem dos professores, incluindo parte do discurso de gente dentro do
universo da educação que tem, evidentemente, responsabilidades acrescidas e
também o discurso que muitos opinadores profissionais, mais ou menos ignorantes
ou com agendas implícitas, produzem sobre os professores e a escola,
contribuíram para alterações significativas da percepção social de autoridade
dos professores, fragilizando-a seriamente aos olhos da comunidade educativa,
sobretudo, alunos e pais. Os últimos tempos têm sido, aliás, elucidativos.
Quando o ME refere a existência de “casos pontuais” colabora na desvalorização
destes episódios, um já seria grave.
Esta fragilização tem, do meu ponto de vista, graves e
óbvias consequências, na relação dos professores com alunos e pais.
Em segundo lugar, tem vindo a mudar significativamente a
percepção social do que poderemos chamar de traços de autoridade. Os
professores, entre outras profissões, polícias ou médicos, por exemplo, eram
percebidos, só pela sua condição de professores, como fontes de autoridade. Tal
processo alterou-se, o facto de se ser professor, já não confere, só por si,
“autoridade” que iniba a utilização de comportamentos de desrespeito ou de
agressão. O mesmo se passa, como referi, com outras profissões em que também,
por razões deste tipo, aumentam as agressões a profissionais. Ainda há pouco
foi notícia a subida de incidentes de agressão a pessoal da saúde, médicos e
enfermeiros.
Finalmente, importa considerar, creio, o sentimento
instalado em Portugal de que não acontece nada, faça-se o que se fizer. Este
sentimento que atravessa toda a nossa sociedade e camadas sociais é devastador
do ponto de vista de regulação dos comportamentos, ou seja, podemos fazer
qualquer coisa porque não acontece nada, a “grandes” e a “pequenos”, mas
sobretudo a grandes, o que aumenta a percepção de impunidade dos “pequenos”.
Considerando este quadro, creio que, independente de
dispositivos de formação e apoio, com impacto quer preventivo, quer na actuação
em caso de conflito, obviamente úteis, o caminho essencial é a revalorização da
função docente tarefa que exige o envolvimento de toda a comunidade e a
retirada da educação da agenda da partidocracia para a recolocar como
prioridade na agenda política.
Definitivamente, a valorização social e profissional dos
professores, em diferentes dimensões é uma ferramenta imprescindível a um
sistema educativo com mais qualidade sendo esta valorização uma das dimensões
identificadas nos sistemas educativos melhor considerados.
É ainda fundamental que se agilizem, ganhem eficácia e sejam
divulgados os processos de avaliação ou julgamento, e a punição e
responsabilização séria dos casos verificados, o que contribuirá para combater,
justamente, a ideia de impunidade.
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