quinta-feira, 1 de novembro de 2018

DA FORMAÇÃO CONTÍNUA


O Paulo Guinote tem no Público de ontem um texto sobre o que tem sido o trajecto da chamada formação contínua de professores que me parece merecer reflexão para a qual contribuo com algumas notas.
Devo afirmar que desde há muitos anos colaboro em inúmeras iniciativas no âmbito da formação de professores em diferentes formatos e duração pelo que me sinto envolvido directamente nesta questão.
Antes de entrar na formação em serviço parece necessário não esquecer que apesar do processo de acreditação e avaliação da responsabilidade da A3ES os programas de formação inicial e pós-graduada de docentes nos institutos politécnicos e universidades me parecem ser bastante assimétricos na sua qualidade o que naturalmente reforça a importância da formação contínua.
No entanto, boa parte do que tem sido feito, apesar do excelente trabalho de alguns centros de formação, escolas e mesmo municípios, parece ser de natureza avulsa, dependente dos financiamentos e, sobretudo, associada ao “modismo”, ao que parece estar na moda seja ao nível da “inovação” seja no âmbito de uma “mudança de paradigma”. Por outro lado, a forma como tem vindo a ser considerado, ou não, o impacto da valorização profissional na carreira dos docentes também contribui para algum trajecto errático neste contexto.
Actualmente, parece viver-se mais um ciclo de formação desencadeado pela tutela em consequência das mudanças legislativas designadamente no que se refere ao currículo e flexibilidade curricular e do novo regime da educação inclusiva assentes, mais uma vez na “inovação”, numa “nova escola” na “mudança de paradigma e, obviamente, no que isto exige de novas práticas e, porque não, novos professores. Bom, mas aqui não há volta a dar, são os que temos e, portanto, toca a formar.
Acresce ainda que no que conheço melhor, o universo da chamada educação inclusiva, e como já repetidamente afirmei, temos o hábito de encharcar a legislação em doutrina quando deveria centrar-se basicamente em princípios, procedimentos, recursos e regulação. Assim, prolifera a oferta de pacotes de formação sobre o desenho universal da aprendizagem, a abordagem multinível e outros modelos que, não passam disso mesmo, modelos pelo que não deveriam estar na legislação. Parece claro que a dispersão e quantidade da oferta não é garante da sua qualidade.
A teoria, os conceitos, as metodologias e didácticas fazem parte da formação inicial e entram na formação contínua como ferramentas de resposta e de actualização da mesma aos problemas e necessidades dos docentes que, naturalmente, vão sofrendo ajustamentos.
Voltando à minha experiência já longa na formação de docentes, sinto que o que de mais estimulante e, desculpem a imodéstia, mais positivo me pareceu, foi trabalhar com professores de uma escola a propósito de uma problemática emergente da sua prática e reflectir sobre como tentar lidar com ela, com o muito que já sabemos e o com o que podemos vir a saber.
Parece-me claramente necessária uma reflexão global sobre a formação contínua nos seus diferentes aspectos.

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