sábado, 10 de novembro de 2018

O DESPUDOR E A PEGADA ÉTICA


Ainda estive tentado a escrever estas notas em alemão mas … não sei alemão. Pensei que talvez as pudesse escrever em modo “mulher do Alto Minho” mas … não sou mulher e também não sou do Alto Minho.
Assim sendo, cá vai.
A trapalhada em torno do registo de presença do deputado José Silvano em sessões de trabalho do Parlamento nas quais não esteve presente, as reacções do reclamado farol da ética, Rui Rio, a patética intervenção da deputada Emília Cerqueira, a mulher do Alto Minho que insulta a inteligência, o assobiar para o lado de múltiplas figuras com os seus telhados de vidro ameaçados, constitui apenas mais uma cena triste de um longo trajecto de boa parte das nossas lideranças políticas no esvaziamento de um sentido ético e de pudor que seriam exigíveis.
Sei bem que referências a estas questões num espaço desta natureza, ainda que recorrentes, são irrelevantes. No entanto, também acredito que é necessário reflectir e insistir em discursos e em posições que permitam pressionar no sentido da mudança, daí a insistência em notas que já tenho abordado e a que chamo a pegada ética.
O despertar das consciências para as questões do ambiente e da qualidade de vida colocou na agenda a questão das pegadas, das marcas, que imprimimos no mundo através dos nossos comportamentos. Este novo sentido dado às pegadas tornou secundárias e ultrapassadas as míticas pegadas dos dinossauros e as românticas pegadas que os pares de namorados deixam na areia da praia.
Fomo-nos habituando a ouvir referências às várias pegadas que produzimos com nomes e sentidos mais próximos ou mais distantes mas, sobretudo, tem-se acentuado a grande preocupação com a diminuição do peso, isto é, do impacto das nossas pegadas. Conhecemos a pegada ecológica numa perspectiva mais global ou, em entendimentos mais direccionados, a pegada hídrica, a pegada energética, a pegada verde, a pegada do papel, a pegada do carbono, etc.
Do meu ponto de vista e sempre preocupado com o ambiente, com a qualidade de vida e com a herança que deixaremos a quem nos segue, nunca encontro referências e muito menos inquietações sérias com a pegada ética, isso mesmo, a pegada ética. Os comportamentos e valores que genericamente mobilizamos têm, obviamente, uma consequência na qualidade ética da nossa vida que não é despicienda. Os maus-tratos e negligência que dedicamos aos princípios éticos mais substantivos provocam um empobrecimento e degradação do ambiente e da qualidade de vida das quais cada vez parece mais difícil recuperar.
As lideranças, hipotecando a sua condição de promotores de mudanças positivas são fortemente responsáveis pelo peso e impacto que esta pegada ética está a assumir.
Vai sendo tempo de incluir a pegada ética no universo da luta pelo ambiente, pela qualidade de vida e pelo futuro.

1 comentário:

Maria Teresa Santos disse...

Muito bom professor. Li e "assino" por baixo.
A ideia da pegada ética é mesmo muito boa.

Abraço solidário da sua ex-aluna Teresa