sábado, 24 de novembro de 2018

DO APAGÃO SEM FIM À VISTA


Desculpem a insistência mas a questão justifica. Como é sabido, o Parlamento da Madeira decidiu por unanimidade dar um parecer negativo à proposta do Governo que determina a contagem parcial do tempo de serviço dos docentes que esteve congelada durante os mais famosos nove anos, quatro meses e dois dias do nosso tempo.
Nos últimos dias também o Parlamento dos Açores, onde o PS tem maioria absoluta, deu também um parecer negativo, neste caso a abstenção do PS e voto favorável das outras bancadas.
Estes novos desenvolvimentos no já longo conflito entre ME e professores no que se refere à carreira e contagem de tempo de serviço que esteve "congelado" aumentam ainda mais a expectativa sobre a decisão do Presidente da República, promulgará ou não promulgará. Não promulgando, a proposta é devolvida à Assembleia da República onde se pode configurar a designada maioria negativa, convergência entre as bancadas do PSD, CDS-PP e BE ou PC. 
Importa ainda não esquecer que apesar das resistências com que tem contado (para ser simpático) está em curso uma Iniciativa Legislativa de Cidadãos “visando a votação em plenário de uma proposta de lei destinada à “consideração integral do tempo de serviço docente prestado durante as suspensões de contagem anteriores a 2018, para efeitos de progressão e valorização remuneratória." Apesar das dificuldades criadas pode acontecer que apesar de não estar muito optimista chegue mesmo à votação em plenário.
Julgo que toda esta questão, sobretudo para quem conhece o que é e tem sido o cenário político e as opções em matéria de economia e finanças em Portugal nos últimos anos, já não é uma questão de euros no OGE para 2019, está para além disso.
Creio que o Governo não percebeu ou não quer perceber que nesta altura, o mal-estar, o cansaço, a indignação e desesperança que afectam os professores sustentam um clima e uma atitude de crítica que está para além da esfera de influência dos sindicatos e tem impacto no climas das escolas e no seu trabalho. Por outro lado, pode acontecer que a tutela espere justamente que o cansaço acabe por sair vencedor de um conflito que, como a generalidade das situações de conflito, deveria ser resolvido numa perspectiva de concertação entre os envolvidos. Quando assim não acontece, os efeitos podem ser pesados mas, naturalmente, será uma questão de opção.
Mais uma vez. Qualquer de nós no desempenho da sua profissão vê que não é considerado para os efeitos previstos no quadro legal que a regula parte do tempo que trabalhou. Defender que tal decisão não é adequada não é uma “exigência” é a expressão de um direito.
No entanto, a recorrente afirmação da “exigência” dos professores contribui, implícita ou explicitamente, para criar ruído e diabolizar a classe docente o que, lamentavelmente, não é raro como repetidamente tenho escrito. NOTA - Posteriormente à escrita deste texto li no Expresso a entrevista de Correia de Campos e as afirmações sobre esta questão são de um despudor ético inaceitável. Nada de estranho ou fora de algumas agendas.
Se a estrutura da carreira, do acesso, dos mecanismos de progressão e os efeitos no estatuto salarial não são adequados, justos, claros, etc. então que se desencadeiem os processos conducentes à sua eventual alteração, mas não misturemos tudo para criar confusão.
O quadro legal em vigor, gostemos ou não, é o que deve ser cumprido, é uma questão de direito. Entender o contrário é um risco embora saibamos que em Portugal existe alguma tendência para entender a lei como indicativa e não como imperativa, ou seja, é de geometria variável.
O que estará em causa é o modo e o faseamento no cumprimento da lei. E isto, mais uma vez, só se consegue negociando. Ponto.

Sem comentários: