Com alguma frequência entra na agenda a questão da idade de entrada para creche e a reflexão sobre
eventuais vantagens ou desvantagens das crianças estarem nos primeiros anos com avós ou frequentarem creche .
Recordo um trabalho
que na altura aqui comentei divulgado pela Fundação Gulbenkian em 2014, “A
prestação de cuidados pelos avós na Europa”, em que se analisam as políticas
familiares e a sua influência no papel dos avós na prestação de cuidados às
crianças envolvendo a Áustria, Bélgica, Dinamarca, França, Alemanha, Grécia,
Itália, Holanda, Espanha, Suécia, Suíça, Portugal, Espanha Itália e Roménia,
conclui que as mães portuguesas com filhos até aos seis anos são as quem mais
trabalham a tempo inteiro e com licenças de parentalidade mais baixas apesar da
evolução, sendo também Portugal um dos países estudados em que os avós mais
cuidam dos netos.
Esta realidade que suponho não
ter alterações de fundo não pode deixar de ser considerada bem como um outro
aspecto crítico, a ausência de respostas suficientes para estas idade o seu altíssimo
custo (um dos mais elevados da Europa) o que constitui, aliás, uma variável
importante nos projectos de vida dos casais no que respeita à parentalidade. A enorme dificuldade no encontrar de resposta ainda há umas semanas foi notícia, “Apenas metade das crianças até aos três anos tem resposta”, lia-se no JN.
Este cenário coloca a muitas
famílias e desde muito cedo a necessidade ajuda de outros cuidadores e educadores acessíveis às
famílias. Também sabemos que a alteração dos estilos de vida, a mobilidade e a
litoralização do país, levam à dispersão da família alargada de modo a que os
jovens casais dependem quase exclusivamente de respostas institucionais que, ou
não existem, ou são demasiado caras, ou seja, nem sempre existem avós por
perto.
Importa não esquecer que a decisão em muitas famílias não depende de uma "escolha", trata-se do que têm acessível.
Neste quadro, emerge a oferta
clandestina onde, tal como no caso dos idosos, a preços bem mais acessíveis e
sem controlo da qualidade eficiente, se depositam os miúdos. Neste contexto
surgem com demasiada regularidade notícias sobre episódios de negligência ou
mesmo maus tratos.
É certo que não fica fácil a
fiscalização dos serviços competentes porque a situação também serve às
famílias, pelo custo e pela simples existência para "guarda" dos seus
filhos.
Sabemos todos como o
desenvolvimento e crescimento equilibrado e positivo dos miúdos é fortemente
influenciado pela qualidade das experiências educativas nos primeiros anos de
vida, de pequenino é que ...
Esta é, do meu ponto de vista, a
questão central, nos primeiros anos de vida as experiências educativas,
designadamente, os aspectos sociais, afectivos e emocionais são fundamentais
para a construção pessoal.
Estas experiências de qualidade
podem acontecer tanto em contexto familiar como em contexto de creche. Também
me parece importante que as crianças vivenciem experiências institucionais de
educação pré-escolar ou creche. No entanto, como há tempos afirmava o Professor
Mário Cordeiro, havendo condições nas famílias, qualidade e disponibilidade, ou
em ambientes de natureza familiar, não é imprescindível para o seu
desenvolvimento que as crianças frequentem a creche antes dos dois anos. Assim
sendo, a resposta a questões como “É melhor a creche ou estar
com os avós?” ou “Será melhor entrar para a creche o mais cedo possível? deve
ser cautelosa, não é imperativo para o bem-estar das crianças que entrem o mais
cedo possível para a creche. O que é imperativo é a qualidade das experiências
proporcionadas em casa ou na creche, preferencialmente depois dos dois anos. Insisto,
no entanto, que importa assegurar a existência de creches e jardins de infância a custo acessível à
generalidade das famílias e, obviamente, regular a qualidade do seu serviço
evitando que se transformem em depósitos de crianças. Trata-se de uma aposta no
futuro.
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