quarta-feira, 7 de novembro de 2018

PELA EDUCAÇÃO É QUE VAMOS


Talvez não seja uma questão muito importante dado o estado do mundo, mas a já longa discussão em torno das touradas teve mais um episódio. Começou com a afirmação da Ministra da Cultura falando da tourada como não sendo uma questão de “gosto, não gosto” mas uma questão de natureza civilizacional, seguiram-se as reacções que seriam de esperar face a posições bem conhecidas e eis que surge um exercício de liberdade poética de Manuel Alegre.
Como um outro poeta afirmou mas não pelas mesmas razões, o poeta é um fingidor e Manuel Alegre fingiu que argumentava solidamente na defesa da tourada.
Do meu ponto de vista, o que Manuel Alegre afirma na substância e com total legitimidade é eu gosto de touradas e não gosto que não gostem de touradas, ponto, tudo o resto é um fingimento de argumentação.
Deixando de lado a retórica política da autoridade moral do “velho resistente”, é interessante que Manuel Alegre pede a António Costa que baixe também o IVA para a tauromaquia “já que os prejudicados serão os mais pobres, os trabalhadores que tornam possível este espectáculo”. Notável, apesar de esquecer quantas actividades se vão criando, ajustando ou acabando com o natural andar da história. Recorrendo também a alguma demagogia, as pessoas que viviam de mostrar em espectáculos outras pessoas com características pessoais fora do comum também viram acabar a sua actividade. Mas, neste aspecto, o mundo ficou um pouco melhor
Como também é previsível vem o forte apelo à manutenção da tradição e cultura.
Algumas notas.
De uma forma geral, a defesa da tourada radica em questões de natureza emocional, cultural, psicológica ou sociológica que entendo mas que não tenho que subscrever, o que torna particularmente difícil uma discussão racional e conclusiva. Dificilmente algum adulto favorável às touradas muda de opinião tal como um opositor dificilmente se converterá à “arte”.
No entanto e com também faz Manuel Alegre, parece-me que a argumentação mais frequente assenta na defesa da tradição e da cultura e na preservação da raça do touro bravo e nas questões económicas.
A tradição e a cultura que este "espectáculo", a "festa brava" alimenta não colhe só por si. Como é óbvio, nada se deve manter só porque é tradicional ou integrado na cultura, se tal representar um atentado a direitos básicos. Posso, outra vez com uma ponta de demagogia evidentemente, evocar a "tradição" e "cultura" que alimentaram os combates de gladiadores, a escravatura, a pena de morte, ou mesmo a violência doméstica e a exploração infantil, que de tradição e cultura passaram a procedimentos inaceitáveis e mesmo criminalizados.
Sabemos que as mudanças em matéria de "cultura" e "tradição" são difíceis, são lentas, mas ... "e pur si muove". Também me parece que a mudança será mais fácil com a emergência de gerações mais novas que crescem sem o peso da "tradição" e da "cultura" que nós mais velhos carregamos e que mais dificilmente alteramos.
Quanto à questão da preservação da raça também interessante, temos bons exemplos de proteger espécies ameaçadas sem que para isso tenhamos de matar ou ferir indivíduos dessa espécie, alguns parques muito bem conseguidos que existem em muitos pontos do planeta mostram isso mesmo.
Como em tudo, pela educação é que vamos, numa variante à fórmula de Sebastião da Gama.

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