A intervenção da presidente do
CNE, Maria Emília Brederode Santos, e a divulgação do Relatório "Estado da
Educação 2017" reintroduziram na agenda a questão da estrutura do ensino básico,
designadamente, colocando em causa existência do segundo ciclo nos termos
actuais. Algumas notas.
A questão não é nova, estruturas
representativas dos pais e encarregados de educação, (CONFAP), dos professores,
(FNE), ou dos directores escolares, (ANDE), já têm manifestado abertura para
esta análise e eventual ajustamento.
Aliás, também este ajustamento
consta do programa do Governo, “Promover uma maior articulação entre os três
ciclos do ensino básico, redefinindo progressivamente a sua estrutura de modo a
atenuar os efeitos negativos das transições entre ciclos, assumindo uma gestão
mais integrada do currículo e reduzindo a excessiva carga disciplinar dos
alunos;”
O Ministro da Educação, apesar de
abertura para alterações, não considera significativo o impacto da sua
existência nos níveis de retenção e abandono. No entanto, sendo difícil
estabelecer qualquer relação de causa e efeito parece claro que a sua
existência nos termos actuais pode estar associada a um conjunto de variáveis
que, essas sim, se repercutem nos níveis de desempenho e qualidade dos
processos de ensino e aprendizagem. São exemplos destas variáveis, a existência
de períodos de transição, a estrutura, conteúdos e nível de integração
curricular considerando as idades dos alunos envolvidos, etc.
Não será, aliás, por acaso, que o
modelo que temos tem existência residual em termos de UE e OCDE.
De há muito que também entendo a
necessidade de ajustar, quer a organização do ensino básico, quer as áreas
disciplinares e respectivos conteúdos tendo também aqui referido algumas ideias
sobre isto que vão, aliás, na linha do que se encontra em outros países com
sistemas educativos com bons resultados.
Sei também da enorme complexidade
de mudanças nestas áreas até pelo impacto que poderá ter na organização da
carreira e formação dos docentes para além da multiplicidade de variáveis a
considerar.
Em primeiro lugar não deve realizar-se
sem ajustamento na organização curricular, designadamente no que respeita a
conteúdos e número de disciplinas. Recordo que segundo a lei de bases do
sistema educativo o ensino básico organiza-se numa lógica de ciclo e não numa
lógica disciplinar contrariamente ao ensino secundário.
Deve ser acompanhada de uma real
autonomia das escolas.
Deve contemplar a existência de
diferenciação de trajectos educativos que não sejam definidos e considerados
como de “primeira” e de “segunda”. É fundamental que todos os alunos adquiram
na escolaridade obrigatória uma qualificação, quer seja para prosseguir o seu
trajecto escolar no superior, universitário ou politécnico, quer seja para
entrar no mundo de trabalho ou em programas de formação profissional mais
curtos. Só assim poderão, todos, construir um projecto de vida viável e
positivo.
Neste sentido e olhando para o
que se passa noutras realidades e nos pode ajudar a pensar, creio que opção
ajustada seria a existência de um primeiro ciclo de seis anos assente nas
ferramentas de construção do conhecimento e desenvolvimento pessoal, um segundo
ciclo de três anos já com algumas disciplinas opcionais que acomodassem
motivações e escolhas dos alunos e um terceiro ciclo, o ensino secundário aqui
já com vias diferenciadas incluindo formação profissional.
Insisto no entanto que o quer que
venha a ser realizado, se vier a confirmar-se a alteração, deve acontecer com
uma enorme prudência, reflexão aprofundada e com a participação o mais
abrangente possível dos diversos actores e entidades envolvidos.
Como afirmei a propósito de
outras mudanças recentemente verificadas, depressa e bem não há quem.
Objectivos globalmente positivos podem ser comprometidos por más metodologias
ou calendários de mudança inadequados.
Importa que não se realizem de
forma apressada e sem um consenso tão sólido quanto possível sobre conteúdos e
calendário das mudanças que, reafirmo, me parecem necessárias.
Como muitas vezes afirmo, é tão importante "fazer as coisas certas como fazer certas as coisas". Se bem repararmos nem sempre isto se verifica, mesmo na nossa acção individual. Em políticas públicas ainda é mais necessário.
Como muitas vezes afirmo, é tão importante "fazer as coisas certas como fazer certas as coisas". Se bem repararmos nem sempre isto se verifica, mesmo na nossa acção individual. Em políticas públicas ainda é mais necessário.
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