Hoje consegui ir buscar o meu neto ao Jardim de Infância e deu para verificar que apesar do dia pouco convidativo respirava-se a atmosfera do Halloween. Aliás, desde há uns dias que este espírito, por assim dizer, estava um pouco por todo lado, sobretudo nos espaços comerciais.
É bonito que assim seja, esta celebração de uma das nossas mais ancestrais tradições é importante e imprescindível para que mantenhamos a nossa cultura e identidade.
Gostei de voltar a ouvi as crianças a baterem-me à porta perguntando convictamente, “doçuras ou travessuras?” E reaprendi a estar apetrechado com as doçuras que nos salvarão das travessuras que, aliás, nem imagino o que possam ser pois as crianças já quase não fazem travessuras, só agora no Halloween e poucas pois nós … providenciamos as doçuras.
Na verdade, ainda fico espantado como ainda conseguimos mobilizar as crianças e os adultos para, entre bruxas e zombies, comemorar a nossa cultura e costumes. Ainda bem que assim é.
Quando passa este dia recordo e não resisto a repetir uma história que creio tem uns anos mas poucos.
Bateu-nos à porta um grupo de crianças, discretamente vigiado à distância por um dos pais, porque, achamos, sentimos que a segurança já não é o que era, que nos interpelou com o portuguesíssimo “doçuras ou travessuras?”.
Desculpem lá mas naquela vez não percebemos bem a pergunta e um dos gaiatos lá nos explicou a tradição.
Lembrámo-nos então que talvez esta situação correspondesse a uma outra tradição portuguesa para nós mais familiar, dever ser da origem, o “Pão por Deus” que nos fazia a nós miúdos andar de casa em casa a pedir “pão por Deus” no Dia de todos os Santos como se chamava cá na nossa terra, Portugal, ao Halloween, o Dia de todas as Bruxas.
Perguntámos então se queriam romãs, como era costume no Pão por Deus e talvez fosse no Halloween.
Tínhamos chegado do Monte lá do Alentejo e trouxemos uns cabazes de romãs. Nesse ano as romaneiras, como por lá se fala, esmeraram-se e produziram umas romãs grandes, lindas, com bagos de cor vermelha-romã, claro, e doces, muito doces.
À nossa pergunta uma das miúdas do grupo, talvez a mais velha, aí com uns nove ou dez anos, responde, "o que são romãs?"
Lá nos safámos na explicação e o grupo levou as romãs.
Na altura ficámos em casa a pensar no que é o saber e de que saberes se faz a vida dos miúdos de hoje. Na verdade, é feita de muitos saberes, os que conhecemos, alguns que a nós nos escapam e outros que quando na idade deles nem sonhávamos.
Não simpatizo muito com as discussões sobre o que os miúdos sabem actualmente em que, quase sempre, os mais velhos gostam de concluir pela superioridade dos tempos outros, os seus, naturalmente.
Acho apenas que gostava que os miúdos soubessem o que são romãs, São bonitas e doces e crescem numas árvores também bonitas, as romaneiras, mas que têm picos. Para comer no Halloween, o Dia das Bruxas, ou no Dia de todos os Santos. São uma doçura.
Não sei se virão com a noite que está mas temos ali as doçuras que fazem parte da nossa tradição, o Halloween.
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