No Expresso encontra-se uma peça
muito interessante sobre as condições de trabalho, a produtividade, a
organização do trabalho, a dificuldade de conciliar vida familiar e carreira
profissional, etc. A peça assenta num o inquérito sobre a qualidade de vida na
Europa realizado em 2016 pela Eurofound, Fundação Europeia para a Melhoria das
Condições de Vida e de Trabalho.
Uma questão particularmente
interessante é a presença significativa do “presentismo” na cultura das organizações.
Dito de outra maneira, o trabalhador está presente no local de trabalho mesmo
em situações horário prolongado mesmo que não esteja a fazer nada de relevante,
não seja necessário ou não esteja em condições. O importante é estar presente. Creio
que boa parte de nós já passou por situações desta natureza.
Esta situação também tem paralelo
com o mundo da educação, muitos estudantes tendem a assumir a condição de “escolantes”,
vão até à escola ou às suas imediações, por vezes até vão às aulas mas já não
estudam, são escolantes vão à escola para “socializar” .
A partir de certa altura, perto
de escolas de 2º e 3º ciclo ou secundário e no interior de estabelecimentos de
ensino superior podemos verificar o número significativo de alunos que deambula
pelos espaços da escola ou pelas imediações. Presumo que tal situação não se
deva a absentismo de docentes pois as escolas costumam acautelar essa questão
com actividades de substituição ou existem espaço de trabalho para além das salas de aula, exemplo que inclui o ensino superior. Acho que muitos dos alunos que vejo fora das
salas de aula estão a caminho de perder a condição de "estudantes", e
estarão em vias de passar a "escolantes", ou seja, os que já só vão à
escola ou para perto da escola, já não estudam.
Acontece ainda que alguns destes
alunos ainda frequentam algumas aulas mas sem grande motivação, envolvimento ou
rendimento, cumprem o “presentismo”, estão lá.
É verdade que este cenário
costuma não acontece apenas agora mas de facto torna-se mais evidente a partir
do meio do segundo período, quando as expectativas de sucesso começam a baixar
significativamente e levam à desmotivação, primeiro, e posteriormente para
muitos, ao deixar de aparecer nas aulas, não vai servir de nada, já perderam o
comboio, já "não vão lá". São os grandes candidatos ao empurrão para
o ensino vocacional, não servem para o trabalho intelectual. No ensino superior
vão cumprindo umas cadeiras, com maior ou menor facilidade, prolongam o tempo
de curso que as bolsas familiares permitem ou acabam por desistir.
No entanto, continuam a
deslocar-se diariamente para a escola, é lá que estão os seus amigos e, apesar
de tudo, é lá que eles acham que devem estar apesar dos discursos negativos e
agressivos que produzem com frequência sobre a escola. Ninguém gosta do
fracasso, os discursos e os comportamentos nas mais das vezes mascaram o mal
que se sentem pelo fracasso escolar e pelo que isso significa.
A tarefa de alunos e professores
não é, longe disso, uma tarefa fácil. Tenho alguma esperança que com o reforço
da autonomia das escolas, com alguns ajustamentos nos conteúdos e na gestão
curricular, com dispositivos competentes e suficientes de apoio ao trabalho de
alunos e professores possamos ajudar à reversão, mais uma reversão, na condição
de “escolantes” de alguns adolescentes e jovens. Talvez pudessem reaver a sua
condição de estudantes.
Seria bom para todos.
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