Para que não nos esqueçamos o
calendário das consciências determina para hoje o Dia Mundial do Combate ao
Bullying. Também durante o mês de Outubro são desenvolvidas em diferentes comunidades
educativas iniciativas com o objectivo de prevenir e chamar a atenção para este
fenómeno. Algumas notas repescadas.
Diferentes estudos sugerem que em
Portugal entre 20 a 30% de adolescentes até aos 13 e os 15 anos já se terá
envolvido em episódios de bullying verificando-se com particular preocupação a
subida significativa de cyberbullying e também o envolvimento de crianças mais
novas. Relativamente ao cyberbullying foram recentemente conhecidos dados de um
trabalho da Faculdade de Psicologia da Univ. de Lisboa envolvendo 1607
adolescentes de dez escolas da região de Lisboa e sul do país. Entre os
inquiridos, alunos do 5º ao 12º, 82% afirma já ter assistido, 47% refere já ter
sido vítima e 40% refere comportamentos de agressor como insultos, boatos ou
comportamentos de “gozo” nas redes sociais e chats. Por comportamento, 69.4% são
insultos, 68.7% são “gozo” e 63.9% referem-se a boatos. De referir ainda que os
episódios de cyberbulling yendem a aumentar a partir dos 13 anos.
Sabe-se também que a ocorrência
de situações de bullying é bem superior ao número de casos que são relatados e
que adolescentes ou jovens com necessidades especiais estão mais vulneráveis
como também alguns estudos sugerem.
Uma das características do
fenómeno, nas suas diferentes formas, incluindo o emergente e preocupante cyberbullying,
é justamente o medo e a ameaça de represálias a vítimas e assistentes que,
evidentemente, inibem a queixa pelo que ainda mais se justifica a atenção
proactiva e preventiva de pais, professores, direcções escolares, técnicos ou funcionários.
Este cenário determinaria, só por
si, um empenhado investimento em recursos e dispositivos que procurassem prevenir e minimizar consequências do volume de episódios reconhecido, alguns dos quais de gravidade severa.
É imprescindível que lhes dediquemos atenção
ajustada, nem sobrevalorizando, nem tudo é bullying, o que promove insegurança
e ansiedade, nem desvalorizando, o que pode negligenciar riscos e sofrimento.
Neste universo importa considerar
dois eixos fundamentais de intervenção por demais conhecidos, a prevenção e a
intervenção depois dos problemas ocorrerem. Esta intervenção pode, por sua vez
e de forma simplista, assumir uma componente mais de apoio e correcção ou
repressão e punição, sendo que podem coexistir. Com alguma demagogia e
ligeireza a propósito do bullying, as vozes a clamar por castigo têm do meu
ponto de vista falado mais alto que as vozes que reclamam por dispositivos de
prevenção, intervenção e apoio para além da óbvia punição, quando for caso
disso.
O volume de episódios mostra a
necessidade de dispositivos de apoio e orientação absolutamente fundamentais
para que pais, professores e alunos possam obter informação e apoio. Existem,
felizmente, várias iniciativas com um trabalho importante mas apesar da
colaboração em projectos nas escolas, estão fora da escola.
A existência de dispositivos de
apoio sediados nas escolas, com recursos qualificados e suficientes, a presença
de assistentes operacionais com funções de supervisão dos espaços escolares, é,
a par de ajustamentos nos modelos de organização e funcionamento das escolas e
de uma séria reestruturação curricular, uma tarefa urgente. Ao que se lê no JN,
a Direcção-Geral da Educação prepara programa online "Bullying e
ciberbullying: prevenir e agir", de apoio a escolas, professores e pais para
melhor responder a esta questão.
Sabemos que os recursos são
finitos mas consequências de não mudar são incomparavelmente mais caras. Depois
das ocorrências torna-se sempre mais fácil dizer qualquer coisa mas é
necessário. Muitas crianças e adolescentes evidenciam no seu dia-a-dia sinais
de mal-estar a que, por vezes, não damos atenção, seja em casa, ou na escola,
espaço onde passam um tempo enorme.
Estes sinais não podem, não devem, ser ignorados ou desvalorizados. O resultado pode ser grave.
Estes sinais não podem, não devem, ser ignorados ou desvalorizados. O resultado pode ser grave.
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