sábado, 20 de outubro de 2018

DIA MUNDIAL DO COMBATE AO BULLYING

Para que não nos esqueçamos o calendário das consciências determina para hoje o Dia Mundial do Combate ao Bullying. Também durante o mês de Outubro são desenvolvidas em diferentes comunidades educativas iniciativas com o objectivo de prevenir e chamar a atenção para este fenómeno. Algumas notas repescadas.
Diferentes estudos sugerem que em Portugal entre 20 a 30% de adolescentes até aos 13 e os 15 anos já se terá envolvido em episódios de bullying verificando-se com particular preocupação a subida significativa de cyberbullying e também o envolvimento de crianças mais novas. Relativamente ao cyberbullying foram recentemente conhecidos dados de um trabalho da Faculdade de Psicologia da Univ. de Lisboa envolvendo 1607 adolescentes de dez escolas da região de Lisboa e sul do país. Entre os inquiridos, alunos do 5º ao 12º, 82% afirma já ter assistido, 47% refere já ter sido vítima e 40% refere comportamentos de agressor como insultos, boatos ou comportamentos de “gozo” nas redes sociais e chats. Por comportamento, 69.4% são insultos, 68.7% são “gozo” e 63.9% referem-se a boatos. De referir ainda que os episódios de cyberbulling yendem a aumentar a partir dos 13 anos.
Sabe-se também que a ocorrência de situações de bullying é bem superior ao número de casos que são relatados e que adolescentes ou jovens com necessidades especiais estão mais vulneráveis como também alguns estudos sugerem.
Uma das características do fenómeno, nas suas diferentes formas, incluindo o emergente e preocupante cyberbullying, é justamente o medo e a ameaça de represálias a vítimas e assistentes que, evidentemente, inibem a queixa pelo que ainda mais se justifica a atenção proactiva e preventiva de pais, professores, direcções escolares, técnicos  ou funcionários.
Este cenário determinaria, só por si, um empenhado investimento em recursos e dispositivos que procurassem prevenir e minimizar consequências do volume de episódios reconhecido, alguns dos quais de gravidade severa.
É imprescindível que lhes dediquemos atenção ajustada, nem sobrevalorizando, nem tudo é bullying, o que promove insegurança e ansiedade, nem desvalorizando, o que pode negligenciar riscos e sofrimento.
Neste universo importa considerar dois eixos fundamentais de intervenção por demais conhecidos, a prevenção e a intervenção depois dos problemas ocorrerem. Esta intervenção pode, por sua vez e de forma simplista, assumir uma componente mais de apoio e correcção ou repressão e punição, sendo que podem coexistir. Com alguma demagogia e ligeireza a propósito do bullying, as vozes a clamar por castigo têm do meu ponto de vista falado mais alto que as vozes que reclamam por dispositivos de prevenção, intervenção e apoio para além da óbvia punição, quando for caso disso.
O volume de episódios mostra a necessidade de dispositivos de apoio e orientação absolutamente fundamentais para que pais, professores e alunos possam obter informação e apoio. Existem, felizmente, várias iniciativas com um trabalho importante mas apesar da colaboração em projectos nas escolas, estão fora da escola.
A existência de dispositivos de apoio sediados nas escolas, com recursos qualificados e suficientes, a presença de assistentes operacionais com funções de supervisão dos espaços escolares, é, a par de ajustamentos nos modelos de organização e funcionamento das escolas e de uma séria reestruturação curricular, uma tarefa urgente. Ao que se lê no JN, a Direcção-Geral da Educação prepara programa online "Bullying e ciberbullying: prevenir e agir", de apoio a escolas, professores e pais para melhor responder a esta questão.
Sabemos que os recursos são finitos mas consequências de não mudar são incomparavelmente mais caras. Depois das ocorrências torna-se sempre mais fácil dizer qualquer coisa mas é necessário. Muitas crianças e adolescentes evidenciam no seu dia-a-dia sinais de mal-estar a que, por vezes, não damos atenção, seja em casa, ou na escola, espaço onde passam um tempo enorme.
Estes sinais não podem, não devem, ser ignorados ou desvalorizados. O resultado pode ser grave.

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