São agora conhecidos os
resultados do estudo realizado pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da
Universidade Nova em parceria com a Fenprof sobre as condições pessoais dos
professores. Estão em estudo dimensões relativas ao “desgaste emocional,
“burnout” incluído”, e sobre as condições em que estes trabalham - se há
cansaço, desânimo, desmotivação ou, pelo contrário, alegria.”
Dos dados conhecidos relativos a
18420 respostas 47,8% dos professores revela sinais no mínimo preocupantes de
exaustão emocional, 20,6% mostram sinais “preocupantes”, 15,6% revelam “sinais
críticos” e 11,6% apresentam “sinais extremos” de esgotamento.
Cerca de 70% dos docentes
inquiridos revela uma vontade “muito elevada” de reforma antecipada sendo que 84%
dos docentes se reformava antecipadamente se não existisse penalização. Verifica-se
também a elevada referência ao consumo de fármacos.
Cerca de 63% com preocupação com
a indisciplina e é bastante significativa uma referência negativa à burocracia.
A importância destes resultados
justifica o retomar de algumas notas.
Segundo o relatório “Perfil do
Docente”, produzido pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência
relativo ao ano 2016/2017 acentuou-se o
envelhecimento dos professores portugueses.
No universo da educação
pré-escolar apenas 13 profissionais da rede pública têm menos de 30 anos, 0.1%,
enquanto 6034 educadores de infância, 74% têm 50 ou mais anos. No 1º ciclo no
sistema público, entre 24 435 docentes apenas 16 têm menos de 30 anos, 0.1% do
total. Do outro lado, 38%, 9298 têm 50 ou mais anos.
No 2º ciclo, temos 19 398 docentes
dos quais 872 têm menos de 30 anos, 4.5% e 10271 com 50 anos ou mais, 53%.
No 3º ciclo e secundário, em
63473 professores temos 290 com menos de 30 anos, 0.5%, e 30242 com 50 anos ou
mais, 48%.
Um outro indicador, a idade
média, mostra que na educação pré-escolar é de 52 anos, no 1º ciclo 47 anos, no
2º ciclo 50 anos e no 3º ciclo e secundário 49 anos.
Se considerarmos o grupo de
professores com 40 anos ou mais, temos 96% na educação pré-escolar, 78% no 1º
ciclo, 87% no 2º ciclo e 86% no 3º ciclo e secundário.
Os dados conhecidos estão em
linha com os resultados de outros trabalhos que também relacionam o mal-estar e
cansaço com a idade, a população com que se trabalha, é superior no secundário
e as causas estão associadas a turmas com elevado número de alunos, o
comportamento indisciplinado e desmotivação dos alunos, a pressão para os
resultados, insatisfação com as condições de desempenho, carga horária e
burocrática, falta de trabalho em equipa, falta de apoio e suporte das
lideranças da escola.
Na verdade, os dados agora conhecidos
só podem surpreender quem não conhece o universo das escolas, como acontece com
boa parte dos opinadores que pululam pela comunicação social perorando sobre
educação e sobre os professores. Aliás, esta situação verifica-se noutros
países, sendo que para além dos professores, os profissionais de saúde e de
apoios sociais também integram os grupos profissionais mais sujeitos a stresse
e burnout.
Este quadro é inquietante, uma
população docente envelhecida e a revelar preocupantes sinais de desgaste.
Sabemos que os velhos não sabem
tudo e os novos nem sempre trazem novidade. Mas também sabemos que qualquer
grupo profissional exige renovação pelas mais variadas razões incluindo
emocionais, de suporte, partilha de experiência ou pela diversidade.
As salas de professores são cada
vez mais frequentadas, quando há tempo para isso, por gente envelhecida,
cansada que se sente desvalorizada, pouco apoiada, e que muitas vezes,
demasiadas vezes, pergunta "Quanto tempo é que te falta?"
Na verdade, ser professor é uma
das funções mais bonitas do mundo, ver e ajudar os miúdos a ser gente, mas é
seguramente uma das mais difíceis e que mais respeito e apoio deveria merecer.
Do seu trabalho depende o nosso futuro, tudo passa pela educação e pela escola.
Os sistemas educativos com
melhores resultados são, justamente, os sistemas em que os professores são mais
valorizados, apoiados e reconhecidos.
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