segunda-feira, 22 de outubro de 2018

DE REGRESSO


Através de uma porta pequena Cavaco Silva saiu da actividade política. De vez em quando, sempre por portas pequenas surge numa espécie de prova de vida.
Cada vez que tal acontece releva a pequenez, a vingança e um intenso aroma a bafio e bolor.
A afirmação dirigida a Joana Marques Vidal que constará do seu segundo livro de memórias é notável e bem ilustrativa, "Surgiu perante mim uma mulher com ar simples e tímido, pouco entusiasmada com a perspetiva de ocupar um lugar da relevância jurídica e política como o de Procuradora-Geral da República."
Cavaco Silva foi o cidadão com uma mais longa e relevante carreira política em Portugal depois de 1974. Sempre se apresentou como um não político e com um discurso arrogante, pequenino face à política. Considerou-se sempre acima dos "mesquinhos" interesses da classe "política". Um fado conhecido da Manuela de Freitas cantado por José Mário Branco diz, "canta com aquilo que és, só podes dar o que é teu". Cavaco Siva sempre quis dar o que não era seu, a visão a clarividência, a seriedade política e intelectual, a isenção face aos interesses partidários.
Na verdade, Cavaco Silva sempre agiu com o que era seu, a pequenez autocentrada, a arrogância, a defesa clara dos políticos e das ideias" amigas", uma máscara mal composta de Homem acima dos homens. As suas intervenções mais recentes mantêm um elevado grau de coerência.
Partiu sem saudades, sem peso, sem grandeza.
Cada aparição confirma-o.

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