Através de uma porta pequena
Cavaco Silva saiu da actividade política. De vez em quando, sempre por
portas pequenas surge numa espécie de prova de vida.
Cada vez que tal acontece releva a
pequenez, a vingança e um intenso aroma a bafio e bolor.
A afirmação dirigida a Joana Marques Vidal que constará do seu segundo livro de memórias é notável e bem
ilustrativa, "Surgiu perante mim uma mulher com ar simples e tímido, pouco
entusiasmada com a perspetiva de ocupar um lugar da relevância jurídica e
política como o de Procuradora-Geral da República."
Cavaco Silva foi o cidadão com uma mais longa e relevante carreira política em Portugal depois de 1974. Sempre
se apresentou como um não político e com um discurso arrogante, pequenino face à
política. Considerou-se sempre acima dos "mesquinhos" interesses da
classe "política". Um fado conhecido da Manuela de Freitas cantado
por José Mário Branco diz, "canta com aquilo que és, só podes dar o que é
teu". Cavaco Siva sempre quis dar o que não era seu, a visão a
clarividência, a seriedade política e intelectual, a isenção face aos
interesses partidários.
Na verdade, Cavaco Silva sempre agiu com o
que era seu, a pequenez autocentrada, a arrogância, a defesa clara dos
políticos e das ideias" amigas", uma máscara mal composta de Homem
acima dos homens. As suas intervenções mais recentes mantêm um elevado grau de
coerência.
Partiu sem saudades, sem peso,
sem grandeza.
Cada aparição confirma-o.
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