terça-feira, 30 de outubro de 2018

GPS


Da agenda que marca a educação por estes dias destacam-se dois temas. O primeiro, a continuidade do conflito entre o ME e os professores com a definição de uma greve ao que os representantes dos professores entendem ser trabalho extraordinário e a tutela entende ser trabalho “ordinário” colocando mesmo a hipótese de não remunerar esse tempo. Está assim criada mais uma dimensão de um problema que se arrasta por demasiado tempo. O segundo tema remete para a decisão de levar, ou não, a julgamento os envolvidos do caso dos colégios do grupo GPS acusados de corrupção, peculato, burla e falsificação de documentos no âmbito dos negócios em torno dos contratos de associação.
Curiosamente estas duas importantes matérias têm em comum a questão do GPS. No primeiro caso é notória a falta de um GPS que oriente as decisões e no segundo a existência de um GPS que permitia que aquele pessoal se orientasse muito bem, a ver pela acusação. Por partes.
No caso do conflito entre professores e ME parece clara a necessidade de um dispositivo de orientação que colocasse na rota certa o clima vivido nas escolas.
Um ano lectivo que começou marcado pelos habituais sobressaltos e atrasos na colocação dos professores e funcionários ainda que com menos problemas no caso dos docentes, continua influenciado pelo conflito sem fim à vista entre professores ME, por mudanças significativas decorrentes do alargamento dos projectos relativos ao que designam por “flexibilização curricular”, pela definição em cima da hora das “aprendizagens essenciais”, pelas mudanças também já muito perto do início dos trabalhos em matéria de educação inclusiva, entre outras.
Tudo isto tem gerado situações com climas e condições pouco positivas que comprometem o seu trabalho de professores, o dos alunos, dos funcionários e dos pais e, no limite, o direito a uma educação pública de qualidade. O processo desencadeado neste início de semana agudizará certamente este cenário acentuando falta de um GPS ajude a colocar na rota adequada este mundo da educação
Dizem os manuais sobre resolução de conflitos que, de uma forma simples, a melhor solução é “ganhar, ganhar”, todas as partes envolvidas entendem que obtiveram o melhor resultado possível. Para que esta solução seja conseguida exige-se bom senso, vontade de entendimento, legalidade, justiça, transparência, seriedade e uma visão sobre um bem maior.
Neste momento, a actual situação de conflito entre professores e ME, tendo começado mais confinada a uma questão de euros, reposição justa de salários e carreira congelados durante mais de nove anos, já não é “só” uma questão de euros e o que tem vindo a acontecer ameaça seriamente o resultado final para além de que algumas das decisões acrescentam mais problemas e não soluções.
Negociação não é o que parece estar a acontecer.
Os riscos de não acabar bem avolumam-se e creio que poderemos chegar uma solução de “perder, perder”. Ganharão os arautos da desgraça, os do "quanto pior, melhor". Esquecem-se que têm filhos e netos
Quanto à segunda referência a GPS aqui no sentido Gestão de Participações Sociais e as acusações a este grupo no âmbito dos contratos de associação estabelecidos com o ME, também sublinha a importância de um GPS. Ao que consta da acusação e a ver vamos como acaba, temos corrupção, peculato, burla e falsificação de documentos o que ilumina a forma como este pessoal se orientaria com o seu GPS.
Sabemos que a essência cultural dos apoios estatais a estruturas privadas assenta na desregulação que, evidentemente, sai cara aos contribuintes mas, por outro lado, alimenta uma política amigável para os interesses privados. Quase toda a história das PPP é elucidativa. E lamentável, acrescente-se.
Por estas e muitas outras razões é de uma enorme desfaçatez mascarar os negócios da educação, legais ou ilegais, com referências à liberdade de educação.
Parece-me tudo bastante mais claro se falarmos em liberdade de mercado mas prescindindo do dinheiro público para o financiamento de negócios privados a não ser, obviamente, quando é prestado serviço público de educação.
No fim, ainda restará a delinquência. A ver vamos como acaba. Confesso que acho que sairá mais um rato da montanha.

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