quinta-feira, 4 de outubro de 2018

AS CAIXAS DE COMENTÁRIOS


Faz parte das minhas rotinas uma passagem de olhos pela generalidade da imprensa portuguesa e também de alguns títulos internacionais. Embora procure fugir das caixas de comentários nas peças sobre educação nem sempre resisto e espreito. Prometo sempre a mim mesmo que não o volto fazer pois boa parte das vezes e com uma parte muito grande dos comentários fico algures entre o perplexo, o amargurado, o preocupado ou … agoniado.
Alguns exemplos breves, no Público numa notícia sobre a greve dos professores “Os professores estão ensinando o socialismo em vez de ensinar o civismo …” Também no Público numa peça sobre o conhecimento que os alunos têm sobe a greve dos professores. “Não sabem? Simples, estão de greve porque já começaram as aulas!”
No Observador numa peça sobre o vencimento dos professores, “A prova de que ganham bem acima da média dos restantes licenciados da função pública é que, desde Janeiro até agora já fizeram cerca de trinta dias de greve, não recebendo, supostamente, nem salário nem subsídio de refeição. Os outros licenciados não aguentariam o corte de tantos dias nos seus ordenados.”, “Torna-se urgente rever a nossa Constituição, no sentido de travar esta loucura da classe docente. Na prática, não deixa de ser uma ditadura dos professores sobre o resto da sociedade. Isto é uma caricatura da democracia e há que colocar um ponto final a esta pouca vergonha!”, “Três meses de férias por ano componentes lectivas de 20 horas, 50 dias de greve não á duvida que é muita canseira.”, “Claro que ganham demais pois à maioria dos nossos professores aplica-se a máxima que QUEM NÃO SABE FAZER ENSINA.” No JN a propósito também da greve dos docentes e de declarações do líder da FENPROF, “Este parasita, que nunca trabalhou e quem o acompanha nas greves não são mais nem menos chulos dos restantes trabalhadores, esta cambada estão-se nas tintas para os Pais que tem filhos na escola, e nos problemas que causam às pessoas que vivem e trabalham neste pobre País.” (corrigi algumas gralhas ou erros na escrita).
Eu sei que também aparecem comentários de outra natureza mesmo quando são em tom crítico ou expressando posições diferentes.
No entanto, tanta ignorância e preconceito, tanta raiva dirigida aos professores, são difíceis de perceber.
Será que esta gente tem filhos ou netos? Será que acham mesmo que os professores dos seus filhos ou netos são aquelas pessoas sobre as quais e os seus problemas falam daquela maneira? Será que acham que os  discursos que produzem sobre os docentes contribuem para que os seus filhos ou netos respeitem e valorizem os professores que diariamente têm à sua frente?
Tenho dificuldade em entender. Eu sei que também existem situações incompetência, nenhuma dúvida. Sei ainda que muitas peças sobre a educação em alguma imprensa e de acordo com as suas linhas editoriais também criam, sem surpresa como é óbvio, um contexto “amigável” para os comentários desta natureza.
Mas é mau, muito mau, para todos.  

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