Faz parte das minhas rotinas uma
passagem de olhos pela generalidade da imprensa portuguesa e também de alguns
títulos internacionais. Embora procure fugir das caixas de comentários nas
peças sobre educação nem sempre resisto e espreito. Prometo sempre a mim mesmo que
não o volto fazer pois boa parte das vezes e com uma parte muito grande dos
comentários fico algures entre o perplexo, o amargurado, o preocupado ou …
agoniado.
Alguns exemplos breves, no Público
numa notícia sobre a greve dos professores “Os
professores estão ensinando o socialismo em vez de ensinar o civismo …” Também
no Público numa peça sobre o conhecimento que os alunos têm sobe a greve dos
professores. “Não sabem? Simples, estão
de greve porque já começaram as aulas!”
No Observador numa peça sobre o
vencimento dos professores, “A prova de
que ganham bem acima da média dos restantes licenciados da função pública é
que, desde Janeiro até agora já fizeram cerca de trinta dias de greve, não
recebendo, supostamente, nem salário nem subsídio de refeição. Os outros
licenciados não aguentariam o corte de tantos dias nos seus ordenados.”, “Torna-se urgente rever a nossa Constituição,
no sentido de travar esta loucura da classe docente. Na prática, não deixa de
ser uma ditadura dos professores sobre o resto da sociedade. Isto é uma
caricatura da democracia e há que colocar um ponto final a esta pouca vergonha!”,
“Três meses de férias por ano componentes
lectivas de 20 horas, 50 dias de greve não á duvida que é muita canseira.”,
“Claro que ganham demais pois à maioria
dos nossos professores aplica-se a máxima que QUEM NÃO SABE FAZER ENSINA.” No
JN a propósito também da greve dos docentes e de declarações do líder da
FENPROF, “Este parasita, que nunca
trabalhou e quem o acompanha nas greves não são mais nem menos chulos dos
restantes trabalhadores, esta cambada estão-se nas tintas para os Pais que tem
filhos na escola, e nos problemas que causam às pessoas que vivem e trabalham
neste pobre País.” (corrigi algumas gralhas ou erros na escrita).
Eu sei que também aparecem
comentários de outra natureza mesmo quando são em tom crítico ou expressando
posições diferentes.
No entanto, tanta ignorância e
preconceito, tanta raiva dirigida aos professores, são difíceis de perceber.
Será que esta gente tem filhos ou
netos? Será que acham mesmo que os professores dos seus filhos ou netos são
aquelas pessoas sobre as quais e os seus problemas falam daquela maneira? Será
que acham que os discursos que produzem sobre os docentes contribuem para que os
seus filhos ou netos respeitem e valorizem os professores que diariamente têm à
sua frente?
Tenho dificuldade em entender. Eu sei que também existem situações incompetência, nenhuma dúvida. Sei ainda que muitas peças sobre a educação em alguma imprensa e de acordo com
as suas linhas editoriais também criam, sem surpresa como é óbvio, um contexto “amigável”
para os comentários desta natureza.
Mas é mau, muito mau, para todos.
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