Como muitas vezes afirmo os
problemas das minorias não são problemas minoritários pelo que retomo uma
questão que já aqui tenho abordado, o bullying homofóbico em contexto escolar.
O Público faz referência a um
trabalho do CIS-IUL - Centro de Investigação e de Intervenção Social do
Instituto Universitário de Lisboa segundo o qual as vítimas de bullying relacionado com a orientação sexual, real ou
percebida, têm menos hipóteses de ter ajuda por parte dos colegas que outras vítimas de bullying. Estando
presente a questão óbvia do preconceito os colegas receiam efeitos de contágio,
ou seja, serem também considerados homossexuais. A questão da ajuda é
importante pois a generalidade dos estudos aponta para que em mais de 80% das
situações de bullying existam assistentes que podem ter um papel importante na
contenção das agressões. Aliás, é hoje aceite que uma parte significativa da
intervenção e prevenção do bullying deve envolver os assistentes.
Um trabalho divulgado este ano
pela Associação ILGA Portugal — Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual, Trans e
Intersexo divulgou o “Estudo Nacional Sobre o Ambiente Escolar — Jovens LGBTI+
2016/2017” realizado ISCTE e pela U. do Porto envolvendo perto de 700 jovens
com idades compreendidas entre os 14 e os 20 anos também tem dados pertinentes.
Mais de 62% dos inquiridos
reporta comentários negativos feitos de pessoal docente e não docente de
natureza ocasional e 28.5% refere regularidade nesses comentários.
Os comentários negativos são
sobretudo produzidos por colegas, 75.1%.
Sendo a maioria das agressões de
natureza verbal também se relatam agressões físicas, 7.7%.
De registar ainda que 73,6%
refere ter sentido alguma forma de exclusão intencional por parte dos colegas e
quase 65% foi alvo de rumores ou mentiras sobre si na escola.
É ainda relevante que apenas um
em cada dez inquiridos denunciou regularmente a situação de vitimização e
constata-se que em escolas onde se desenvolve trabalho sobre estas questões a
situação é mais positiva.
Todos estes dados estão em linha
com a realidade, são frequentes os discursos ou comportamentos discriminatórios
face à orientação sexual ou identidade de género em contexto escolar.
Em 2017 a Agência para os Direitos
Fundamentais da União Europeia referia que 94% dos jovens LGBT ouvem ou
testemunham comentários e comportamentos negativos em contexto escolar em
Portugal". Já se referia também que a apresentação de queixa por parte das
vítimas é rara.
Com demasiada frequência os
problemas das minorias são eles próprios percebidos como problemas minoritários, menores ou mesmo como não
problemas.
Em 2014 foi divulgado um estudo
referindo as dificuldades das Comissões de Protecção de Crianças e Jovens em
lidar com crianças e jovens com orientações sexuais diferentes, um problema que
raramente é abordado mas que é fonte de sofrimento para muitas crianças,
adolescentes famílias.
Um Relatório da Rede Ex-Aequo
referia que no ano de 2012 se registaram 37 denúncias de homofobia e
transfobia, sendo que 42 % da juventude lésbica, gay ou homossexual afirmou ter
sido vítima de bullying homofóbico, 67% dos jovens declarou tê-lo presenciado e
85% afirmou já ter ouvido comentários homofóbicos na escola que frequenta. Em
muitas situações desta natureza emergem quadros “baixa auto-estima, isolamento,
depressões e ideação e tentativas de suicídio”, contribuindo ainda para o
insucesso e para o abandono escolar de muitos jovens. O mesmo relatório referia
ainda episódios recorrentes de bullying homofóbico em contextos de praxes
académicas, situação que já aqui também comentei.
Recordo que em Novembro de 2011,
dados da UNESCO referiam que cerca de 70 % de alunos homossexuais afirma ser
vítima de bullying.
De facto, parece evidente o risco
de sofrimento por parte destes adolescentes e jovens.
Sabemos também que tanto como
intervir na remediação e apoio é fundamental entender que o público mais jovem
terá de ser sempre ser um alvo privilegiado, é de "pequenino que se torce
o pepino".
Esperemos que face à dimensão dos
incidentes de bullying dirigidos a um alvo em
particular a que acrescem os outros comportamentos da mesma natureza, sejam uma
preocupação não ideológica mas de direitos e de natureza civilizacional no
contexto das políticas e processos educativos.
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