Uma passagem de olhos pela
imprensa deixou-me inquieto, mais do que é habitual. Que raio de futuro está a
crescer? Eu sei que não somos capazes de responder mas creio que a maioria de
nós, em nome dos miúdos, se agarra à convicção ou esperança de que sejamos capazes
de conter ameaças e nuvens que se levantam.
Antes de retomar a lida e neste
contexto, esperança ou desesperança face ao futuro, uma pequena estória que escrevi há já algum tempo com base na
pergunta que, provavelmente, os miúdos mais ouvem, “Que queres ser quando fores
grande?”
Numa daquelas conversas que a
Professora Joana fazia habitualmente com o seu grupo, estava discutir-se o que
a miudagem se imaginava a fazer quando chegasse a grande. A maioria dos miúdos
ia referindo as escolhas habituais na idade, médico, futebolista, professora,
piloto de aviões, músico, trabalhar com computadores, etc. No entanto algumas
respostas fugiam ao padrão mais frequente o que não deixou de surpreender a
Joana.
O João, um dos miúdos mais
activos e participativos do grupo queria ser Fazedor, explicando que como
Fazedor poderia fazer todas as coisas de que as pessoas precisassem para,
assim, ninguém ter falta de coisa nenhuma.
A Sara, uma mocinha muitíssimo
arrumada e serena, disse no seu jeito tranquilo que queria ser Organizadora.
Sendo Organizadora poderia mexer na vida das pessoas de forma que todos
tivessem tempo para tudo e tudo pudesse ser feito, bem feito.
O Francisco, um puto esperto que
passava parte do seu tempo na “Lua” afirmou convictamente que queria ser
Sonhador. Se ele fosse Sonhador, um bom Sonhador, acrescentou, teria imensos
sonhos para dar às pessoas que já não têm ou não são capazes de os ter.
Faltava só ouvir o Manel, o
reguila. Foi ouvindo em silêncio, contra o hábito, pensou a Joana, quando o
interrogou, “Então Manel, só faltas tu, que queres ser quando fores grande?”. O
Manel hesitou e, de repente, afirma, “Quero ser Mandador”. Mandador? Exclamou
toda a gente.
E o Manel, com o ar de quem sabe o
que quer, explicou, “Quando for Mandador vou mandar as pessoas todas fazer o
que o João, a Sara e o Francisco disserem”.
Ficamos à espera, digo eu. Precisamos mesmo.
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