Vale a pena reflectir na entrevista que se encontra no Público a Peter Hotez, investigador e reitor da Faculdade
Nacional de Medicina Tropical em Houston, EUA. A questão, actual e importante, centra-se na
campanha que emergiu nos últimos tempos contra a vacinação das crianças e que,
entre outros problemas e riscos estará certamente associada ao aumento significativo
de casos de sarampo. O argumentário contra a vacinação não tem sustentabilidade
científica e muitos países estão a pensar em tomar medidas como não permitir o
acesso creches a crianças não vacinadas como forma de pressão sobre os pais.
Já aqui falei destas questão e
julgo que importa assistir pois com regularidade alguns pais expressam dúvidas
sobre a vacinação face ao que vão lendo e ouvindo.
Temos que insistir na mensagem, vacinar
ou não vacinar não pode ser uma opção, vacinar é uma obrigação em nome do bem-estar
e da saúde, sobretudo dos mais novos.
Apesar de ainda não parecer algo
de preocupante também em Portugal começa a emergir alguma discussão
relativamente à vacinação.
Estima-se que mais de quatro mil
crianças em Portugal não sejam anualmente vacinadas.
Como é sabido existe um Plano
Nacional de Vacinação e Portugal tem, felizmente, uma taxa bastante elevada de
vacinação nas crianças, cerca de 95%.
Noutros países e até com mais
significado também se assiste à emergência de movimentos que levam a que muitos
pais recusem vacinar os filhos e por cá também se ouvem opiniões nesse sentido
e pais que não procedem à vacinação dos filhos como já foi referido. Alguns dos
recentes casos de sarampo parecem atingir crianças não vacinadas.
Recordo que há algum tempo se
verificou um surto de sarampo nos Estados Unidos com resultados preocupantes pois
atingiu estados em que os pais podem recusar as vacinas.
Não sendo especialista, sei que
as vacinas contêm alguns riscos que basicamente estarão controlados e sei
também que existem interesses brutais em jogo, designadamente por parte das
farmacêuticas e laboratórios. No entanto, parece-me que a vacinação representa
um ganho civilizacional que poupa a morte a muitos milhares de crianças pelo
mundo inteiro e quando reparamos na taxa de mortalidade infantil verificada em
países que não conseguem assegurar campanhas de vacinação generalizadas
percebemos isso com clareza. Os testemunhos de gente conhecedora, como Mário
Cordeiro ou Gomes Pedro mostram isso mesmo.
Assim sendo, é sempre com alguma
preocupação que em nome de valores, certamente legítimos mas que necessitam de
ponderação, se possa decidir por comportamentos que manifestamente são
causadores de riscos para as crianças.
Ainda no mesmo âmbito recordo
também um movimento emergente que defende a realização de partos em casa que,
evidentemente, tem merecido a condenação de enfermeiros e médicos devido aos
elevados riscos envolvidos para bebés e mães. Também nesta matéria sabemos dos
interesses económicos em jogo traduzidos, por exemplo, numa altíssima taxa de
cesarianas que parece agora com tendência para baixar.
O povo costuma dizer que
"com a saúde não se brinca". Não estamos a falar, obviamente, de
brincadeiras mas estamos a falar de decisões que são de uma enorme
responsabilidade e que podem levar como aconteceu, creio que em 2017, no Reino
Unido que o Tribunal Superior de Justiça por iniciativa do pai das crianças
obrigasse a mãe a aceitar que os filhos fossem vacinados.
Trata-se como sempre do superior
interesse da criança. Importa que nós os que trabalhamos na área da educação ou
da saúde tenhamos uma maior atenção a estas matérias.
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