Estamos no início de mais um ano lectivo,
as aulas começarão daqui a poucos dias. Mais uma vez o ano antecipa-se alguma
intranquilidade, um dia seremos capazes de conseguir que um novo lectivo seja
apenas isso, um novo ano lectivo sem especiais sobressaltos para além das
particularidades do universo da educação.
Os dias de hoje e amanhã e certamente alguns mais serão dias
de professores em trânsito. Uns largos milhares estão a deslocar-se para a
escola onde ficaram colocados, os resultados dos concursos saíram mesmo no
final da semana e os professores têm 72 horas para se apresentarem na escola. Alguns, muitos, terão de se deslocar com filhos, arranjar habitação, etc. Não é fácil e ainda não foi desta que os concursos e os resultados
foram antecipados.
Outros largos milhares estarão em
trânsito para se inscreverem nos centros de emprego pois ficaram sem colocação.
Muitos destes são docentes com muitos anos de serviço e que têm provisoriamente
desempenhado funções que correspondem a necessidades definitivas. Muitos destes
professores vão vivendo projectos de vida adiados.
Raramente a profissão professor
tem estado tanto em foco como nos últimos anos bem como a necessidade de
defender a qualidade da escola pública sob ameaça significativa.
Desencadearam-se múltiplas acções políticas que contribuíram para degradar a
sua função, a sua imagem social e o clima e a qualidade do trabalho
desenvolvido nas escolas.
Opções políticas assumidas e em
curso têm contribuído para uma atenção continuadamente dirigida para a educação
e para os professores. Essa atenção advém de boas e más razões. Não cabe aqui
um balanço alargado o, e entendo que, tal como os miúdos, os professores não
têm sempre razão, ninguém tem. No entanto, gostava de deixar algumas notas.
Em primeiro lugar importa desde
logo sublinhar que ser professor no ensino básico e secundário por razões
conhecidas e por vezes esquecidas, é hoje uma tarefa de extrema dificuldade e
exigência que social e politicamente justifica o maior reconhecimento que nem
sempre é evidente. Vejamos.
Não é fácil ser professor em
algumas escolas que décadas de incompetência na gestão urbanística e
consequente guetização social produziram.
Milhares de professores cumprem a
sua carreira, muitos deles sem a possibilidade de desenharem projectos de vida
para si quando são os principais responsáveis por lançar projectos de vida para
os miúdos com quem trabalham. Nos últimos anos milhares de professores, de bons
professores e professores necessários, foram constrangidos à reforma e muitos
ao desemprego por uma política de contabilidade inimiga da educação pública e
da qualidade. Veja-se os sucessivos processos de colocação de professores e as
situações dramáticas que a incompetência e a arrogância de diferentes equipas
na 5 de Outubro produziram.
Tantas vezes os professores são
injustiçados na apreciações de muita gente que no minuto a seguir a dizer uma
ignorante barbaridade qualquer, vai numa espécie de exercício sadomasoquista
entregar os filhos nas mãos daqueles que destrata, depreendendo-se assim que,
ou quer mal aos filhos ou desconhece os professores e os seus problemas.
Era desejável mas trata-se de
pedir muito que a educação e os problemas dos professores não sejam objecto de
luta política baixa e desrespeitadora dos interesses dos miúdos, mesmo por
parte dos que se assumem como seus representantes.
Pensemos em como a forma como os
miúdos, pequenos e maiores, vêem e se relacionam com os professores está
directamente ligada à forma como os adultos os vêem e os discursos que fazem.
Pensemos finalmente nos
professores que nos ajudaram a chegar ao que hoje cada um de nós é, aqueles que
carregamos bem guardadinhos na memória, pelas coisas boas, mas também pelas
más, tudo contribuiu para sermos o que somos.
A valorização social e
profissional dos professores, em diferentes dimensões é uma ferramenta
imprescindível a um sistema educativo com mais qualidade. Aliás, uma das
características dos sistemas educativos melhor considerados é, justamente, a
valorização dos professores.
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