Segundo um relatório agora
divulgado pela UNICE, “An Everyday Lesson: #ENDviolence in Schools” estima-se
que metade dos alunos entre os 13 e os 15 anos passa por situações de violência
na escola ou na sua proximidade. Um em cada três de um em cada três
adolescentes entre os 13 e os 15 anos será vítima de bullying e também um em
cada três estará envolvido em confrontos físicos.
O bullying em contexto escolar é
tão antigo quanto a instituição escolar, sendo certo, no entanto, que a
designação é recente e o estudo do fenómeno também. A violência entre jovens
fora do contexto escolar também está longe de ser um fenómeno novo.
Actualmente, é também mais objecto de referências fora dos contextos educativos
pois o volume e a gravidade de algumas situações, bem como a divulgação dos
estudos e alguma mediatização verificada, colocaram este problema na agenda.
Em vários estudos constata-se que
os adolescentes tendem a encarar a violência entre si como normal e este é o dado mais inquietante mas não surpreendente. A escola, desde sempre, espelha as realidades sociais e o quadro de
valores prevalecente nos contextos que serve. A sociedade da informação e os
sistemas de valores actuais banalizaram a violência, não são os adolescentes
que a banalizaram. A violência é objecto de jogos de vídeo e computadores, é
passatempo de claques e grupos, entra a qualquer hora pelas nossas casas
dentro. Diferentes estudos envolvendo alunos do ensino superior mostra com preocupação um elevado volume de situações de violência nas relações de namoro e o entendimento que várias das formas de violência são normais.
Por outro lado, a escola, por ser
o espaço onde os adolescentes passam a maior parte do seu tempo é,
naturalmente, o espaço onde emergem e se tornam visíveis os problemas e
inquietações que os alunos carregam. No entanto, não é possível considerar-se
que a escola é mágica e omnipotente pelo que tudo resolverá. Tudo pode envolver
a escola, mas nem tudo é da exclusiva responsabilidade da escola.
Apesar disso, creio que na
escola, para além de muitíssimos outros aspectos, a violência entre jovens é um
fenómeno complexo, existem duas questões que me parecem essenciais e
contributivas para lidar com a situação. Em primeiro lugar é importante criar
nos alunos vitimizados a convicção de que se podem queixar e denunciar as
situações. Os directores de turma, figura central nas escolas mas com um papel
muitas vezes negligenciado, teriam aqui um trabalho fundamental, podem
definir-se canais e dispositivos de apoio que garantam a protecção da vítima
pois o medo de represálias é o principal motivo da não apresentação da queixa e
ainda detectar junto dos seus alunos sinais que indiciem vitimização. Em
segundo lugar, é preciso contrariar no limite do possível a ideia de
impunidade, de que não acontece nada aos agressores. As escolas podem assumir
atitudes, discursos e montar dispositivos que, visivelmente, dêem aos alunos um
sinal de que não existe tolerância para determinados comportamentos.
A violência e o bullying entre
adolescentes em contextos escolares ou na comunidade não serão, provavelmente,
eliminados, mas poderão, acredito, ser minimizados, embora seja imprescindível
entender que esta grave questão grave não é competência só da escola e da
família. É um problema das comunidades.
No entanto, a existência de
dispositivos de apoio sediados nas escolas, com recursos qualificados e
suficientes é, a par de ajustamentos nos modelos de organização e funcionamento
das escolas uma tarefa urgente.
Do meu ponto de vista, o
argumento custos não é aceitável porque as consequências de não mudar são
incomparavelmente mais caras. Depois das ocorrências torna-se sempre mais fácil
dizer qualquer coisa mas é necessário. Muitas crianças e adolescentes
evidenciam no seu dia-a-dia sinais de mal-estar a que, por vezes, não damos
atenção, seja em casa, ou na escola, espaço onde passam um tempo enorme.
Estes sinais não podem, não
devem, ser ignorados ou desvalorizados. O resultado pode ser trágico.
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