Uma das situações recorrentes no
nosso sistema educativo que julgo, por assim dizer, curiosas, é o número de casos em que após reapreciação face a recurso as notas dos exames finais sobem. É também interessante a forma discreta como esta situação é acolhida.
Este ano, das 6112 provas reapreciadas pelo Júri Nacional de Exames subiram 70%, mais de
4000 exames. Em Matemática A tivemos 85% de melhorias e em Português 68%.
No Ensino Básico o número de
pedidos de reapreciação é bem mais baixo mas verifica-se subida de nota em 79%.
Sabe-se que a avaliação escolar
contém uma incontornável dimensão de subjectividade e complexidade, por isso, é
necessário um trabalho muito consistente ao nível da qualidade dos exames, da
solidez, clareza e coerência dos critérios de avaliação e, naturalmente, da
competência dos avaliadores. Estes aspectos são, aliás, objecto de frequentes
referências na imprensa durante a época de exames.
Como explicar tal número de
recursos acolhidos, na maioria subindo a classificação? Como confiar na
avaliação se muitos professores aconselham os alunos a recorrer pois a
probabilidade de verem a nota melhorada é grande?
No ano passado, também na altura
em foram conhecidos os resultados dos recursos, a professora Leonor Santos da
Universidade de Lisboa, especialista em avaliação das aprendizagens, afirmava
em entrevista ao Público que aqui citei na altura devido ao seu interesse, a
existência de estudos que confirmam a tendência de a subida de notas nos
processos de reapreciação. Entende que tal situação decorre mais da “atitude de
base” do classificador que de erros cometidos. Afirma, “Há investigação que já demonstrou que a preocupação dos avaliadores que
estão a classificar pela primeira vez é a de manter os mesmos critérios para
todas as provas. Mas quando está a fazer uma revisão de prova, a sua atitude é
completamente diferente: tenta aproveitar tudo o que for possível”.
Não sou especialistas nestas
matérias mas julgo que deveriam ser, tanto quanto possível, ponderadas e
consideradas para que os exames e a sua classificação mereçam a confiança de
alunos e famílias.
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