Achei interessante a entrevista
do Presidente do IAVE, Hélder Sousa, ao Observador. Aliás, acho até curiosas
algumas das afirmações vindas de alguém que é responsável pelo Instituto de Avaliação
Educativa.
Algumas notas a propósito de
avaliação. Parece consensual o entendimento de que a qualidade em educação se
promove, é certo, com a avaliação rigorosa e regular das aprendizagens (externa
e interna), naturalmente, mas também com a avaliação do trabalho dos
professores, com a definição de currículos e metodologias adequadas, com a
estruturação de dispositivos de apoio a alunos e professores eficazes e
suficientes, com a definição de políticas educativas que sustentem um quadro
normativo simples e coerente e modelos adequados de organização e funcionamento
das escolas, com a definição de objectivos de curto e médio prazo,
sustentadores de uma visão estável para o funcionamento do sistema.
Neste quadro, parece-me pouco
prudente afirmar, como o faz o Presidente do IAVE, face ao desempenho dos
alunos que “A raiz do problema estará
muito mais na forma como o ensino é encarado pelos professores: eu tenho de dar
o programa. Têm uma matriz cheia de conteúdos e pensam que têm de passá-la toda
aos alunos para cumprir o seu dever.”. Não esta questão, sendo de
considerar, não é a raiz do problema. A raiz, as raízes do problema estão a montante
da acção do professor, desde logo considerando a visão de escola e educação que
a comunidade e as famílias assumem e todo conjunto de aspectos de política
educativa.
A avaliação escolar, através de
diferentes dispositivos, cumpre três funções essenciais, a certificação, da
aquisição de saberes ou de competências por exemplo, a ordenação, os resultados
dos alunos dispersam-se por um escala, 0 a 20 ou 0 a 100, e a de regulação, recolher
informação que permita identificar fragilidades nos processos de trabalho com
vista à sua correcção.
Os exames nacionais, mas também
os tão frequentes testes procuram cumprir, sobretudo a primeira e segunda
funções, a certificação e a ordenação. Neste cenário surgem as primeiras
questões, que competências ou saberes devem ser adquiridos. Não é fácil, antes
pelo contrário, que um só exame consiga avaliar o "tudo" que pode ser
avaliado, por esta razão, o exame não pode ser o "tudo" em matéria de
avaliação.
Não tenho uma posição
fundamentalista contra os exames, duvido da sua justificação no 4º ano, mas
também tenho a maior das convicções que uma avaliação basicamente centrada em
produtos, exames por exemplo, é insuficiente para introduzir mecanismos de
correcção eficazes no trabalho de alunos e professores. Não é por medir muitas vezes a febre, mesmo
com um termómetro de boa qualidade, que a febre baixa.
Nesta perspectiva é fundamental a
solidez dos dispositivos de avaliação dirigida aos processos, ou seja, recorrer
de forma consistente e aprofundada a dispositivos de avaliação formativa. No
entanto, este movimento deve assentar numa sólida autonomia de professores e escolas
de que ainda estamos longe.
Todos sabemos isto de há muito
mas por múltiplas razões continuamos muito presos a dispositivos de natureza
mais sumativa que se avolumam no secundário devido ao peso dos resultados dos
exames no acesso ao superior algo que, como tanta vezes já escrevi deveria ser
repensado como, aliás, também entende o Presidente do IAVE.
Finalmente, parece-me de
reafirmar que qualquer debate sobre avaliação escolar solicitará incontornavelmente
o envolvimento de outras dimensões como currículos e programas, organização e
funcionamento das escolas, designadamente recursos e apoios educativos.
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