Gostei de ler o texto de João
Ruivo “Tempos que exigem um impulso renovador” que toca num aspecto central, a
autonomia e valorização dos professores.
“À falta de poder e de controlo dos professores, no que respeita ao seu
trabalho, transformando-os em simples executores de decisões tomadas por
hierarquias distantes e sem rosto (a partir das quais as "ordens" se
tornam impessoais e difusas, e em que as responsabilidades se diluem), temos
chamado de desprofissionalização, a qual atribuímos a muitos factores, dos
quais salientamos: o cansaço físico e moral, a falta de reconhecimento social
do seu papel, a falta de protecção perante o vandalismo e a violência com que
acrescidas vezes se deparam nas escolas, a falta de recursos, os horários
inadequados à sua função formadora, a escassa formação para gerir os novos
programas, a pressão dos pais e outros agentes sociais, a intensificação da
atribuição de novas tarefas e funções para as quais nem sempre se sentem
preparados.”
Assente na autonomia real das
escolas, a autonomia e valorização dos professores é, de facto, um factor
crítico para a qualidade dos processos educativos.
Esta autonomia é fundamental e é
a alternativa a uma visão dos professores como “entregadores de conteúdos” que
funcionam em escolas públicas que sofrendo forte desinvestimento terão menos
recursos, apoios e autonomia.
Esta perspectiva que tem vindo a
fazer o seu percurso em diferentes sistemas assenta no que João Ruivo refere
por “desprofissionalização” e que emergiu na década de 80 sob a designação de “deskilling”
promovendo uma visão em que os docentes cumprem ordens e programas, não têm que
fazer escolhas, possuir conhecimento aprofundado, solidez nas metodologias,
valores éticos e morais, etc. Seria suficiente uns burocratas a papaguear aulas para grupos de alunos "normalizados" com base num currículo prescritivo e no manual ("content delivery" como referi acima) e outros burocratas a medir
saberes e uns outros ainda a construir fórmulas de gestão num qualquer serviço
centralizado.
Este não pode ser o caminho.
Para completar esta reflexão e
como contraponto, talvez seja interessante ler a entrevista de Inger Enkvist no
Público. Trata-se de “alguém que conhece bem os sistemas educativos onde o
sucesso impera” e que defende ideias extraordinariamente interessantes como “turmas
de nível” para que as crianças “aprendam ao mesmo tempo”, “a devolução da
autoridade aos professores” (não explica como e ninguém que conheça o trabalho
dos professores acha que se faz por decreto), defende que as crianças que
aprendem “mais devagar” (??) devem ser orientadas para outras vias e que os
alunos não têm que participar na escolha dos seus trajectos, logo aos 12 anos
devem ser encaminhados para outras vias pelos seus professores, eles é que
sabem e mesmos os pais não devem ter grande intervenção.
O que me parece mais preocupante
nesta entrevista é a quantidade de gente que irá gostar do que leu.
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