sexta-feira, 3 de agosto de 2018

DOS PROFESSORES


Gostei de ler o texto de João Ruivo “Tempos que exigem um impulso renovador” que toca num aspecto central, a autonomia e valorização dos professores.
À falta de poder e de controlo dos professores, no que respeita ao seu trabalho, transformando-os em simples executores de decisões tomadas por hierarquias distantes e sem rosto (a partir das quais as "ordens" se tornam impessoais e difusas, e em que as responsabilidades se diluem), temos chamado de desprofissionalização, a qual atribuímos a muitos factores, dos quais salientamos: o cansaço físico e moral, a falta de reconhecimento social do seu papel, a falta de protecção perante o vandalismo e a violência com que acrescidas vezes se deparam nas escolas, a falta de recursos, os horários inadequados à sua função formadora, a escassa formação para gerir os novos programas, a pressão dos pais e outros agentes sociais, a intensificação da atribuição de novas tarefas e funções para as quais nem sempre se sentem preparados.
Assente na autonomia real das escolas, a autonomia e valorização dos professores é, de facto, um factor crítico para a qualidade dos processos educativos.
Esta autonomia é fundamental e é a alternativa a uma visão dos professores como “entregadores de conteúdos” que funcionam em escolas públicas que sofrendo forte desinvestimento terão menos recursos, apoios e autonomia.
Esta perspectiva que tem vindo a fazer o seu percurso em diferentes sistemas assenta no que João Ruivo refere por “desprofissionalização” e que emergiu na década de 80 sob a designação de “deskilling” promovendo uma visão em que os docentes cumprem ordens e programas, não têm que fazer escolhas, possuir conhecimento aprofundado, solidez nas metodologias, valores éticos e morais, etc. Seria suficiente uns burocratas a papaguear aulas para grupos de alunos "normalizados" com base num currículo prescritivo e no manual ("content delivery" como referi acima) e outros burocratas a medir saberes e uns outros ainda a construir fórmulas de gestão num qualquer serviço centralizado.
Este não pode ser o caminho.
Para completar esta reflexão e como contraponto, talvez seja interessante ler a entrevista de Inger Enkvist no Público. Trata-se de “alguém que conhece bem os sistemas educativos onde o sucesso impera” e que defende ideias extraordinariamente interessantes como “turmas de nível” para que as crianças “aprendam ao mesmo tempo”, “a devolução da autoridade aos professores” (não explica como e ninguém que conheça o trabalho dos professores acha que se faz por decreto), defende que as crianças que aprendem “mais devagar” (??) devem ser orientadas para outras vias e que os alunos não têm que participar na escolha dos seus trajectos, logo aos 12 anos devem ser encaminhados para outras vias pelos seus professores, eles é que sabem e mesmos os pais não devem ter grande intervenção.
O que me parece mais preocupante nesta entrevista é a quantidade de gente que irá gostar do que leu.

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