Durante esta quinta-feira mais
de 350 jornais norte-americanos, respondendo a uma ideia do Boston Globe, dedicam
editoriais a uma firme recusa e contestação dos ataques frequentes de Trump à
imprensa.
Não sei qual será o impacto da
iniciativa nos cidadãos mas duvido que Trump não responda com mais ataques e
novos insultos.
Os tempos vão negros. Esta
negrura exige mais do que nunca uma imprensa autónoma e independente. Para
isso deverá ser sustentável para minimizar os riscos da influência de quem
financia.
Há uns anos numa entrevista ao
Público, em 2011, um especialista, Tom Rosenstiel afirmava que se o jornalismo,
(os jornais), deixar de ser rentável e, como tal, corra o risco de desaparecimento,
as democracias poderão sofrer um "cataclismo cívico".
É este o risco do trumpismo na
imprensa.
No entanto, a imprensa tem que
fazer o seu papel, terá de ser proactiva e não reactiva.
Uma cidadania de qualidade exige
uma imprensa não só voltada para o imediatismo da espuma dos dias e, sou um
optimista, acredito que apesar das mudanças em tecnologia e das incidências do
mercado a que os jornalistas e os jornais deverão adaptar-se, os jornais em
papel são como os dias, nunca acabam. Se forem jornais, bons jornais. Quando
escrevo sobre estas matérias recordo-me sempre de jornais e jornalistas que me
têm acompanhado ao longo da vida e que me fazem manter leitor diário de jornais
em papel. É que, apesar de também consumir informação noutros suportes, não é a
mesma coisa.
Neste sentido, precisamos todos
que a imprensa cumpra o que se espera dela, justamente o que Trump odeia.
Se analisarmos o nosso quotidiano
nesta matéria creio que boa parte da imprensa é, frequentemente complacente com
as lideranças económicas e políticas mas também frequentemente esta
complacência assenta no seu próprio alinhamento. Em qualquer dos casos um mau
serviço prestado à cidadania.
Acho deplorável a forma se aceita
a forma como algumas figuras reagem ao ser abordadas pela imprensa sobre
assuntos sobre os quais, por várias razões, não lhes interessa discorrer.
Surgem então as afirmações patéticas, “não tenho nada a acrescentar”,
“desculpem, não comento”, “não estou aqui para falar dessas matérias,” etc.,
etc. Desenvolvem assim uma espécie de surdez selectiva, só ouvem o que lhes
convém, de mutismo selectivo, só falam do que lhes convém, de cognição
selectiva, só conhecem o que lhes convém.
As mesmas figuras que
directamente ou através de terceiros, lambem as botas às redacções e aos
jornalistas (quanto mais influentes melhor) e pedem, exigem, tempo de antena
quando tal serve os seus diferentes interesses.
Algumas dessas figuras quando,
quase sempre fruto do alpinismo partidário, ascendem a alguma forma de poder
conseguem ainda ir mais longe nessa relação com a imprensa, se não lhes agrada
calam-na ou atacam-na-na como também não é raro. É um método velho e intemporal,
Trump que o diga.
Devo confessar que tal cenário é,
para mim, profundamente irritante e patético, sinto que nos insultam, que nos
consideram destituídos, como se por não abordarem as diferentes matérias, elas
não se passassem ou não existissem ou, noutros processos, que somos manipulados
de forma nem sempre perceptível pela opacidade das situações.
Mas incomoda-me uma comunicação
social, boa parte dela, passiva e resignada, que não confronta as figuras
públicas com estes comportamentos, não os denuncia, e que acorrem solícitos
quando essas figuras entendem que têm algo a dizer, as mais das vezes,
irrelevante. Também lhes convém esta subserviência interesseira que alguns
mantêm, também têm as suas agendas. Às vezes são recompensados.
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