O DN e a Sábado dedicam algum
espaço a temática que me curiosa e coerente com alguns dos sinais dos tempos,
os alunos devem estudar ou não durante as férias escolares. Algumas notas também
ligadas ao facto da Sábado me ter solicitado uma pequena colaboração na peça
que elaborou.
O ponto de partida nos dois
trabalhos é a referência a alguns estudos que revelam algo de insuspeito e
nunca verificado por quem lida ou pensa em questões de aprendizagem, durante as férias de Verão os alunos
esquecem as férias parte do que aprenderam.
Perante tal problema teremos,
parece, duas soluções, encurtamos as férias para “não lhes darmos tempo" a
que esqueçam ou mantemos os alunos a estudar mesmo fora da escola e … onde
estão as férias?
A ver se nos entendemos.
É óbvio que tal como aprendemos …
esquecemos, quem não se lembra de “encornar” matéria para um teste e dias
depois se fosse interrogado boa parte do que tinha na “ponta
da língua” teria sido esquecido. Assim sendo, é natural que depois de um tempo de férias a
generalidade os alunos ao reiniciar a vida escolar tenha um período de readaptação
às rotinas e com maior ou menor facilidade reentra no caminho da aprendizagem. Como
também parece claro aquilo que mais facilmente será “esquecido” serão
aprendizagens adquiridas sobretudo com base na memorização ou treino regular. Também
nada de novo como já vimos. Os conhecimentos integrados, construídos e
estruturantes permanecem de forma mais persistente, não "abanam" significativamente com as férias.
Por outro lado, também se sabe
que os alunos mais “esquecem” nas férias tendem a ser alunos de rendimento
menos elevado e, naturalmente, com famílias de menor nível escolar sem que isto
signifique qualquer relação de causa-efeito. Esta situação está associada à
natureza das experiências que os alunos vivenciam durantes as férias, as
actividades em que se envolvem, as experiências proporcionadas por contextos
familiares mas favorecidos economicamente e mais escolarizados. Esta relação
acontece e relaciona-se evidentemente também com o seu desempenho durantes
aulas e não apenas com o que acontece nas férias.
Perante este quadro podemos
pensar em algumas vias que se complementassem para lidar com estas questões.
Podemos considerar uma
reorganização do ano lectivo que, no entanto deve levar em conta que prolongar a
estadia nas escolas no nosso clima e parque escolar pode criar algumas dificuldades,
considerar que temos épocas de exame que “obrigam” a que as aulas acabem mais
cedo, que apesar ser dos países em que os alunos têm mais semanas de férias no
Verão (maioritariamente países do sula da Europa por razões óbvias) também
somos dos países em que os alunos têm maior carga horária durante o ano escolar.
Podemos, parece-me uma via mais
ajustada, desenvolver trabalho de orientação educativa no sentido de que as
famílias possam incentivar e desenvolver com os filhos actividades que não
sendo “da escola” são úteis para escola, leitura, jogos, actividade lúdicas de
diferente natureza, etc. Nesta âmbito vejo de facto uma área em que as
autarquias podem contribuir proporcionando uma oferta de actividades acessíveis
a todas as crianças. No entanto, de forma adequada e sem grandes conflitos podem ser desenvolvidas e incentivadas actividades de natureza escolar mas sem o "peso" da rotina dos dias de "trabalho", afinal estamos em férias.
O DN titulava a sua peça “Estudar
compensa” acrescentando “mas não compre guerras necessárias”. É interessante, parece
claro que estudar compensa, mas … as férias também compensam.
Creio que uma excessiva preocupação
com o que as crianças “esquecem” durantes as férias” se prende mais com a “pressão
para a excelência” que se instalou em muitas contextos escolares e familiares
que o real problema colocado por esse “esquecimento” em todo o trajecto escolar
dos alunos.
Haja bom-senso.
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