sexta-feira, 24 de agosto de 2018

É PRECISO ESTUDAR NAS FÉRIAS. HAJA BOM-SENSO


O DN e a Sábado dedicam algum espaço a temática que me curiosa e coerente com alguns dos sinais dos tempos, os alunos devem estudar ou não durante as férias escolares. Algumas notas também ligadas ao facto da Sábado me ter solicitado uma pequena colaboração na peça que elaborou.
O ponto de partida nos dois trabalhos é a referência a alguns estudos que revelam algo de insuspeito e nunca verificado por quem lida ou pensa em questões de aprendizagem, durante as férias de Verão os alunos esquecem as férias parte do que aprenderam.
Perante tal problema teremos, parece, duas soluções, encurtamos as férias para “não lhes darmos tempo" a que esqueçam ou mantemos os alunos a estudar mesmo fora da escola e … onde estão as férias?
A ver se nos entendemos.
É óbvio que tal como aprendemos … esquecemos, quem não se lembra de “encornar” matéria para um teste e dias depois se fosse interrogado boa parte do que tinha na “ponta da língua” teria sido esquecido. Assim sendo, é natural que depois de um tempo de férias a generalidade os alunos ao reiniciar a vida escolar tenha um período de readaptação às rotinas e com maior ou menor facilidade reentra no caminho da aprendizagem. Como também parece claro aquilo que mais facilmente será “esquecido” serão aprendizagens adquiridas sobretudo com base na memorização ou treino regular. Também nada de novo como já vimos. Os conhecimentos integrados, construídos e estruturantes permanecem de forma mais persistente, não "abanam" significativamente com as férias.
Por outro lado, também se sabe que os alunos mais “esquecem” nas férias tendem a ser alunos de rendimento menos elevado e, naturalmente, com famílias de menor nível escolar sem que isto signifique qualquer relação de causa-efeito. Esta situação está associada à natureza das experiências que os alunos vivenciam durantes as férias, as actividades em que se envolvem, as experiências proporcionadas por contextos familiares mas favorecidos economicamente e mais escolarizados. Esta relação acontece e relaciona-se evidentemente também com o seu desempenho durantes aulas e não apenas com o que acontece nas férias.
Perante este quadro podemos pensar em algumas vias que se complementassem para lidar com estas questões.
Podemos considerar uma reorganização do ano lectivo que, no entanto deve levar em conta que prolongar a estadia nas escolas no nosso clima e parque escolar pode criar algumas dificuldades, considerar que temos épocas de exame que “obrigam” a que as aulas acabem mais cedo, que apesar ser dos países em que os alunos têm mais semanas de férias no Verão (maioritariamente países do sula da Europa por razões óbvias) também somos dos países em que os alunos têm maior carga horária durante o ano escolar.
Podemos, parece-me uma via mais ajustada, desenvolver trabalho de orientação educativa no sentido de que as famílias possam incentivar e desenvolver com os filhos actividades que não sendo “da escola” são úteis para escola, leitura, jogos, actividade lúdicas de diferente natureza, etc. Nesta âmbito vejo de facto uma área em que as autarquias podem contribuir proporcionando uma oferta de actividades acessíveis a todas as crianças. No entanto, de forma adequada e sem grandes conflitos podem ser desenvolvidas e incentivadas actividades de natureza escolar mas sem o "peso" da rotina dos dias de "trabalho", afinal estamos em férias.
O DN titulava a sua peça “Estudar compensa” acrescentando “mas não compre guerras necessárias”. É interessante, parece claro que estudar compensa, mas … as férias também compensam.
Creio que uma excessiva preocupação com o que as crianças “esquecem” durantes as férias” se prende mais com a “pressão para a excelência” que se instalou em muitas contextos escolares e familiares que o real problema colocado por esse “esquecimento” em todo o trajecto escolar dos alunos.
Haja bom-senso.

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