Mais um episódio trágico de violência
sobre as mulheres num quadro de violência doméstica. Desta vez aconteceu na
Figueira da Foz e será a décima oitava vítima deste ano
O mundo da violência doméstica é
bem mais denso e grave do que a realidade que conhecemos, ou seja, aquilo que
se conhece, apesar de recorrentemente termos notícias de casos extremos, é
"apenas" a parte que fica visível de um mundo escuro que esconde
muitas mais situações que diariamente ocorrem numa casa perto de si.
Por outro lado, para além da
gravidade e frequência com que continuam a acontecer episódios trágicos de
violência doméstica é ainda inquietante o facto de que alguns realizados em
Portugal evidenciam um elevado índice de violência presente nas relações
amorosas entre gente mais nova mesmo quando mais qualificada. Muitos dos
intervenientes remetem para um perturbador entendimento de normalidade o
recurso a comportamentos que claramente configuram agressividade e abuso ou
mesmo violência.
Importa ainda combater de forma
mais eficaz o sentimento de impunidade instalado, as condenações são bastante
menos que os casos reportados e comprovados, bem como alguma “resignação” ou
“tolerância” das vítimas face à situação de dependência que sentem
relativamente ao parceiro, à percepção de eventual vazio de alternativas à
separação ou a uma falsa ideia de protecção dos filhos que as mantém num espaço
de tortura e sofrimento.
Nesta perspectiva, torna-se
fundamental a existência de dispositivos de avaliação de risco e de apoio como
instituições de acolhimento acessíveis para casos mais graves e, naturalmente,
um sistema de justiça eficaz e célere.
Torna-se ainda necessário que nos
processos de educação e formação dos mais novos possamos desenvolver esforços
que alterem quadros de valores, de cultura e de comportamentos que minimizem o
cenário negro em que vivemos. A educação é arma mais poderosa de transformação
do mundo como sabiamente afirmava Mandela.
A omissão ou desvalorização desta
mudança é a alimentação de um sistema de valores que ainda “legitima” a
violência nas relações amorosas, que a entende como “normal”.
Tudo isto tem como efeito a
continuidade dos graves episódios de violência que regularmente se conhecem,
muitos deles com fim trágico. Como agora em Quiaios.
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