O ME estabelece em orientações
enviadas para as escolas que a partir do próximo ano lectivo as turmas com
Percurso Curricular Alternativo deixarão de ter cumprir tempos mínimos
obrigatórios para as disciplinas de Português e Matemática. Deverão ser as
escolas a definir as cargas horárias.
Em 2016/2017 esta oferta educativa
envolvia 311 turmas com 4327 alunos e com uma média de idades mais elevada
que os seus colegas em igual ano de escolaridade. A maioria tinha entre 15 e 17
anos.
Esta decisão, no seu princípio,
corresponde a um passo no caminho adequado, a autonomia das escolas para
organizar as suas respostas educativas o que de há muito defendo e que tarda em
se concretizar de facto e também não parece ser com a “municipalização” em curso
que se realizará.
No entanto, apesar da bondade do
princípio há sempre um (uns) mas. Algumas notas.
Estas turmas, tal como foi definido
na sua criação, destinam-se a alunos cumulativamente, tenham mais de uma
retenção e se encontrem em risco de exclusão social e abandono escolar com
histórias de retenção, risco de abandono escolar e exclusão social.
Desta definição emerge uma
questão que recentes dados da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência
evidenciam. Estes alunos apresentam resultados significativamente mais baixos
que os seus colegas que seguem o ensino básico regular no desempenho dos cursos
profissionais do ensino secundário. Não como acreditar que juntando grupos de
maus alunos eles se tornem bons. Com diz o povo junta-te aos bons e será como
eles, junta-te aos maus e …..
Tal não significa que não deva
existir alguma diferenciação na oferta curricular, é imprescindível. No entanto,
para que não alimente percursos “de segunda”, muitos deles condenados ao
insucesso e abandono, justamente a razão para que exista, esta diferenciação
curricular tem de inscrever-se no quadro de aprendizagens da matriz curricular
geral para que as aprendizagens realizadas sejam adequadas a trajectos de
formação posterior e não uma matriz curricular de “conteúdos” simplificados que pode promover “aproveitamento” mas não aprendizagem significativa.
Nesta perspectiva, esta oferta
curricular diferenciada deve ser divulgada, construída e acessível a todos os
alunos e não destinada fundamentalmente "aos que não têm jeito para a
escola", "aos repetentes", aos "preguiçosos", aos “indisciplinados”,
aos “com más famílias” e ser percebida e considerada como uma verdadeira
alternativa "não desvalorizada", de "segunda" como muitos
alunos, famílias, professores e escolas e mesmo o discurso do próprio MEC assim
tem considerado.
Finalmente, uma questão
essencial. Sendo importante, não basta atribuir autonomia às escolas. É
imprescindível que as escolas tenham recursos e dispositivos que sustentem
condições de sucesso real para este tipo de trabalho. As respostas
diferenciadas não são compatíveis com recursos normalizados, exigem condições.
Assim, este modelo, “Percursos
Curriculares Alternativos”, para além da reflexão sobre a sua própria definição,
“o que é alternativo?”, “para que alunos?”, “Como e com que recursos?”, não
pode ser uma espécie de “gueto curricular” em que muitos terminam de forma “administrativa”
o ensino básico mas poucos o fazem com potencial de sucesso no percurso
posterior.
Sem comentários:
Enviar um comentário