Em trabalho agora divulgado pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência analisando o trajecto dos alunos que
iniciaram os cursos profissionais do secundário em 2014/2015 verifica-se que dos
alunos que acederam sem ser pelo ensino básico geral, apenas 35,6% conseguiu
terminar nos 3 anos previstos e 30% abandonou. Estes alunos frequentaram os Cursos de Educação e
Formação, os cursos vocacionais criados por Nuno Crato ou frequentaram turmas
de currículo alternativo. Estes alunos são também mais velhos em média o que demonstra
uma trajectória com retenções que, obviamente, se repercute na relação que
constroem com a escola e que se associa certamente ao seu menor desempenho.
Dos alunos oriundos do ensino
básico geral 70% concluiu o curso em três anos e apenas 6% abandonou. A
diferença é significativa.
Da análise dos dados e da
caracterização sociodemográfica dos alunos decorre também que alunos com
famílias mais favorecidas frequentam menos e em casos de grandes dificuldades
estas vias alternativas.
Os dados não surpreendem e sustentam
o que de há muito tenho defendido. É fundamental criar oferta formativa
diferenciada, mas não deve acontecer tão cedo na vida dos alunos, um erro
crasso do MEC, e não privilegiando, implícita ou explicitamente, os alunos com
insucesso que naturalmente, os estudos provam-no, são sobretudo oriundos de
famílias menos qualificadas o que, obviamente, compromete a mobilidade social e
a equidade de oportunidades. Aliás, a OCDE tem expressado, recordo a experiência
do ensino dual alemão importado por Nuno Crato e que envolveu muitos dos alunos
agora analisados, que uma via profissional precoce mantém a desigualdade social
e é dificilmente reversível. Os dados mostram-no, os níveis de exclusão e
insucesso são elevados.
No âmbito do básico o ensino
profissional ainda é com alguma frequência percebido como basicamente destinado
"aos que não têm jeito para a escola", "aos repetentes",
aos "preguiçosos" e não é percebido como uma verdadeira alternativa
"não desvalorizada", de "segunda" como muitos alunos,
famílias, professores e escolas e mesmo o discurso do próprio MEC assim o
considerou com a criação dos cursos vocacionais para os alunos, muito novos e
com retenções.
De uma forma geral os alunos no
ensino básico que experimentam dificuldades escolares, precisam de apoios
adequados, suficientes e competentes, autonomia das escolas e dos professores, flexibilidade e
alguma diferenciação curricular, por exemplo em áreas disciplinares opcionais e
não de vias profissionais para onde sejam “encaminhados” sem que daí decorra
para a maioria a esperança num projecto de vida que inclua formação
bem-sucedida.
2 comentários:
Concordo completamente! Obrigado pela análise
E será que muda?
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