Talvez não seja uma questão muito
importante dado o estado do mundo, mas li com satisfação que com uma
participação significativa os alunos da Universidade de Coimbra decidiram não
realizar a tradicional garraiada na sua tradicional Queima das Fitas. O voto “Não”
registou 70.7% face a 26.7% de votos favoráveis.
A já longa discussão em torno das
touradas teve mais um episódio.
Na verdade, a defesa da tourada
radica em questões de natureza emocional, cultural, psicológica ou sociológica
que entendo mas que não tenho que subscrever, o que torna particularmente
difícil uma discussão racional e conclusiva.
No entanto, parece-me que a
argumentação mais frequente, a tradição e a cultura que este
"espectáculo", a "festa brava" alimenta não colhe só por
si. Como é óbvio, nada se deve manter só porque é tradicional ou integrado na
cultura, se tal representar um atentado a direitos básicos. Posso, com uma
ponta de demagogia evidentemente, evocar a "tradição" e
"cultura" que alimentaram os combates de gladiadores, escravatura, a
pena de morte, ou mesmo a violência doméstica e a exploração infantil, que de
tradição e cultura passaram a procedimentos inaceitáveis e mesmo
criminalizados.
Sabemos que as mudanças em
matéria de "cultura" e "tradição" são difíceis, são lentas,
mas ... "e pur si muove". Também me parece que a mudança será mais
fácil com a emergência de gerações mais novas que crescem sem o peso da
"tradição" e da "cultura" que nós mais velhos carregamos e
que mais dificilmente alteramos.
Como em tudo, pela educação é que
vamos, numa variante à fórmula de Sebastião da Gama.
Neste caso e a em matéria de
educação a academia tem especial responsabilidade.
Fico agora a aguardar com alguma
expectativa que também alguns dos aspectos “tradicionais” das “tradicionais”
praxes que, por vezes são atentatórias da dignidade de praxados, caloiros ou “bestas,
realizadas por “doutores” ou “veteranos”. Humilhar não rima com integrar.
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