Como assinalei em textos anteriores
registo com agrado a trajectória de Alexandre Homem Cristo, um dos falcões do
Observador, nos seus "ensaios" sobre educação. Desta vez escreve
sobre a retenção escolar, "Os alunos devem chumbar? É mais complicado do que parece".
Depois de uma sustenta análise
conclui com quatro ideias essenciais. Cito.
Ideia 1 – “Portugal tem um número
muito elevado de alunos a chumbar, todos os anos, com particular incidência nos
primeiros anos de escolaridade de cada ciclo de ensino.” … “as elevadas taxas
de reprovação de alunos são sobretudo uma característica do sistema educativo
português”.
Ideia 2 – “… a retenção de alunos
é geralmente ineficaz para a promoção das suas aprendizagens” . Ou seja, em
média, chumbar não ajuda os alunos a aprender e recuperar o atraso que têm face
aos colegas que transitaram de ano escolar.” … “se é, em média, uma medida ineficaz para as
aprendizagens, é também uma medida praticada de forma recorrente, desviando
para aí fundos públicos que são mal empregues.”
Ideia 3 – “Qualquer solução para
este problema das retenções escolares tem de ser direccionada para a qualidade
das aprendizagens, garantindo mais e melhor apoio aos alunos que manifestem
dificuldades. Isso terá custos orçamentais, inevitavelmente. Mas também há
elevados custos orçamentais com a retenção escolar.”
Ideia 4 – “Perante um aluno com
dificuldades, a opção mais simples é deixá-lo para trás (retenção). A opção
desejável é haver um investimento reforçado nesse aluno. Mas isso representa
mais trabalho e mais dedicação e requer mais condições para prestar apoio aos
alunos. Ora, actualmente, o sistema não gera incentivos aos professores para
que sintam essa responsabilidade.”
Desta vez estamos genericamente
de acordo.
De facto, definitivamente, não
adianta discutir se o chumbo transforma o insucesso em sucesso. Não transforma,
repetir só por repetir não produz sucesso, aliás gera mais insucesso conforme
os estudos mostram.
Assim sendo, o que deve ser
discutido e objecto de políticas adequadas será que tipo de apoios, que medidas
e recursos devem estar disponíveis para alunos, professores e famílias desde o
início da percepção de dificuldades com o objectivo de evitar a última e
genericamente ineficaz medida do chumbo. É necessário diversificar percursos de
formação com diferentes cargas académicas e finalizando sempre com formação
profissional.
O número de alunos por turma em
algumas escolas e agrupamentos, um modelo curricular extenso e prescritivo, uma
pressão sobre a avaliação que a centra excessivamente em resultados e menos em
processos, a insuficiência de dispositivos de apoio a alunos e professores são
apenas alguns exemplos do que pode não se favorável à promoção de qualidade e
sucesso.
Como é evidente este tipo de
discurso não tem rigorosamente a ver com "facilitismo" e, muito
menos, com melhoria "administrativa" das estatísticas da educação,
uma tentação a que nem sempre se resiste.
Assim sendo, o essencial é
promover e tornar acessíveis a alunos, professores e famílias apoios e recursos
adequados e competentes de forma a evitar a última e genericamente ineficaz
medida do chumbo. É fundamental não esquecer, como também AHC refere, que o
insucesso continua a atingir fundamentalmente os alunos oriundos de famílias
com pior condição económica e social pelo que inibe o objectivo da mobilidade
social, replicando o velho "tal pai, tal filho".
É necessário também diversificar
percursos de formação com diferentes cargas académicas e finalizando sempre com
formação profissional mas não em idades precoces criando percursos
irreversíveis de "segunda" para os "sem jeito para a
escola" e "preguiçosos".
A qualidade promove-se, é certo e
deve sublinhar-se, com a avaliação rigorosa e regular das aprendizagens, sim,
naturalmente, mas também com a avaliação do trabalho dos professores, com a
definição de currículos adequados, com a estruturação de dispositivos de apoio
a alunos e professores eficazes e suficientes, com a definição de políticas
educativas que sustentem um quadro normativo simples e coerente e modelos
adequados e reais de autonomia, organização e funcionamento das escolas, com a
definição de objectivos de curto e médio prazo, etc.
É o que acontece, genericamente,
nos países com mais baixas taxas de retenção escolar.
É o que não tem acontecido em
Portugal.
Ponto.
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