A imprensa de hoje refere
algumas inquietações entre pais, professores e directores de escola relativamente
ao projecto-piloto de autonomia e flexibilidade curricular em desenvolvimento
em 233 escolas. As questões centram-se sobretudo no impacto que alguns admitem
existir no desempenho dos alunos em exames nacionais uma vez que os currículos
permanecem inalterados e teme-se que a existência de efeitos. São também referidos alguns aspectos como burocracia acrescida e sobrecarga no trabalho de professores.
Há algumas semanas, creio que o
JN, também divulgava algumas reservas de pais e directores mais centradas no
ensino secundário.
Ao que parece, boa parte das
escolas mesmo as envolvidas no projecto não estarão a introduzir mudanças no
10º ano apesar de as entenderem globalmente positivas pois não sabem que
reflexo essa alteração poderá ter no desempenho dos alunos nos exames. Aliás,
referem mesmo a existência de “Medo dos exames nacionais”.
Na visita de Janeiro no âmbito do
acompanhamento do projecto por parte da OCDE, Andreas Schleicher, o seu director
do Departamento de Educação, também se referiu à dificuldade de conciliar o
modelo de flexibilidade curricular com a norma curricular para os exames.
Aliás, na peça do JN aparecia escrito
algo que me causa a maior perplexidade, “se o ME não resolver o
"dilema" entre os dois métodos de ensino, este receio pode revelar-se
um obstáculo à generalização do projecto”.
Na altura escrevi “E voltamos ao
mesmo, ou seja, à revolução, à inovação, ao novo paradigma, aqui expresso em
modo dicotómico, “dois métodos de ensino”. Presumo que um é o “bom” e o outro é
o “mau”. Quais “métodos de ensino”? Será assim? O trabalho em sala de aula pode
ser assim “arrumado”? Que enorme conjunto de equívocos este enunciado contém!”
No entanto e do meu ponto de
vista existe uma outra questão e que também a propósito das referências de hoje
na imprensa julgo merecer reflexão.
De facto, importaria que as
mudanças ou experimentação em educação entendidas por necessárias, e estas são, não se
realizassem de forma apressada, sem um consenso tão sólido quanto possível
sobre objectivos, conteúdos e calendário e a consideração prévia das condições
e requisitos que sustentem as mudanças em execução com um mínimo de sobressaltos e que, reafirmo, me parecem
necessárias e num sentido positivo.
Como muitas vezes refiro, é tão
importante "fazer as coisas certas como fazer certas as coisas". Se
bem repararmos nem sempre isto se verifica, mesmo na nossa acção individual. Em
políticas públicas é ainda mais necessário.
É claro o risco de transformar
algo de positivo num problema. Eu sei que não é fácil prever tudo, que as
mudanças mesmo quando necessárias têm custos mas existem situações em que os
problemas devem ser mínimos. Poder criar-se um efeito e uma representação
negativa sobre a mudança, alimentam-se as opiniões críticas face a essa
mudança, surgem dificuldades dispensáveis aos alunos e escolas e finalmente,
comprometem-se os próprios resultados.
Eu sei que não é fácil prever
tudo mas existem situações em que as perturbações devem ser mínimas. Os
sobressaltos e hesitações podem criar um efeito e uma representação negativa
sobre a mudança, alimentam as opiniões críticas face a essa mudança como tem
estado patente, colocam dificuldades dispensáveis aos alunos e escolas e
finalmente, comprometem-se os próprios resultados fragilizando o entendimento o
que é essencial.
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