Foi divulgado pela Direcção-Geral
de Estatísticas da Educação e Ciência o estudo “Principais indicadores de resultados escolares por disciplina - Série temporal 2011/12 – 2015/16 - 3.ºCiclo - Ensino Público”
Alguns indicadores de um trabalho
que merece séria reflexão tal como os anteriores da mesma natureza.
Em 2015/2016, 33% dos alunos
concluíram o 9º ano com negativa a Matemática. Ao longo da série temporal
considerada, 11/12 a 15/16, esta percentagem subiu e a taxa de recuperação não
ultrapassou os 20%. A Matemática é a disciplina com mais negativas e a com menor
taxa de recuperação. As disciplinas de Inglês, Físico-Química e Português apresentam
também níveis de reprovação significativas mas bem menores que a Matemática.
Os dados estão em linha com o
trabalho divulgado no ano passado “Resultados escolares por disciplina - 3.º
Ciclo - Ensino Público - Ano letivo 2014/2015” com informação dos 3 anos do
ciclo de que recupero alguns indicadores.
Em termos globais o chumbo atingia
13.1% dos alunos no ciclo. Por anos o 7º é o que registava maior retenção,
16.7%, indicador também é verificado nos anos iniciais de cada ciclo. Embora no
8º e 9º a retenção diminua tal não parece decorrer de trabalho de recuperação
mas do facto de muitos alunos retidos no 7º serem encaminhados para outros
trajectos escolares.
Ao nível dos aspectos mais finos
da retenção é inquietante que 66% dos alunos que chumbam no 7º ano reprovam a
seis ou mais disciplinas sendo a Matemática a que apresenta indicadores mais
pesados. No entanto, se o critério for de cinco disciplinas ou mais a taxa
passa para uns dramáticos 85% que, evidentemente, são altamente condicionantes
de um trabalho de recuperação bem-sucedido.
Um outro dado, também em linha
com o que se verificou no 2º ciclo e sem surpresa, é a fortíssima associação
entre os altos níveis de retenção e a mais disciplinas e as condições
socioeconómicas familiares. De facto, em todas as disciplinas no 7º ano os
alunos que reprovam e estão incluídos no Escalão A da Acção Social escolar
(famílias com menores rendimentos) são o dobro de alunos com negativas mas não
abrangidos pela Acção Social Escolar.
No 2º ciclo, estudo também
divulgado em 2017 e respeitante a 2014/2015, a Matemática era claramente a
disciplina em que os alunos têm menor desempenho. Cerca de 30% dos alunos
tiveram resultado negativo e é também a disciplina em que os alunos sentem mais
dificuldade em recuperar, passar de resultado negativo para resultado positivo.
Registe-se também aqui a relação
entre o desempenho escolar e o contexto socioeconómico familiar, no 5º ano 44%
dos alunos no escalão máximo de acção social escolar tiveram negativa a
Matemática, 28% dos alunos no segundo escalão e 16% não envolvidos em
dispositivos de apoio.
No entanto e relativamente a este
último aspecto, a associação entre variáveis de contexto socioeconómico e os
resultados escolares, a escola pode fazer a diferença e contrariar o destino.
As boas práticas e experiências conhecidas mostram que é possível. Quanto à
questão mais particular dos piores resultados em matemática e que,
evidentemente, não começam no 2º ciclo, nem aí acabam, a sua explicação é
complexa.
Estes resultados serão
influenciados, não numa relação de causa-efeito, por múltiplas variáveis, desde
logo como já vimos pelas circunstâncias sociodemográficas onde não pode deixar
de se incluir, o nível de escolaridade dos pais.
Por outro lado, variáveis como
modelo e conteúdos curriculares, número de alunos por turma, tipologia das
turmas e das escolas, dispositivos de apoio às dificuldades de alunos e
professores ou questões de natureza didáctica e pedagógica terão também algum
peso e algumas vezes já aqui referimos estas questões.
Acresce a esta complexidade um
conjunto de outras variáveis menos consideradas por vezes mas que a experiência
e a evidência mostram ter também algum impacto.
São variáveis de natureza mais
psicológica como a percepção que os alunos têm de si próprios como capazes de
ter sucesso, os alunos de meios menos carenciados percebem-se como mais capazes
de aprender matemática.
É também conhecido que os pais
com mais qualificação e de mais elevado estatuto económico têm expectativas
mais elevadas sobre o desempenho escolar dos filhos o que se repercute na acção
educativa e nos resultados escolares e, naturalmente, mais facilmente mobilizam
formas de ajuda para eventuais dificuldades, seja nos TPC, seja através de
ajuda externa.
Finalmente uma outra variável
neste âmbito, a representação sobre a própria Matemática. Creio que ainda hoje existe uma percepção passada nos discursos de muita gente com diferentes níveis de qualificação de que
matemática é uma “coisa difícil” e ainda de que só os mais “inteligentes” têm “jeito”
para a Matemática. Esta ideia é tão presente que não é raro ouvir figuras
públicas afirmar sem qualquer sobressalto e até com bonomia que “nunca tiveram
jeito para a Matemática, para os números”. É claro que ninguém se atreve a
confessar uma eventual “falta de jeito” para a Língua Portuguesa e às vezes bem
que “parece”. A mudança deste cenário é uma tarefa para todos nós e não apenas
para os professores e seria importante que acontecesse.
De facto, este tipo de discursos
não pode deixar de contaminar os alunos logo desde o 1º ciclo convencendo-se
alguns que a Matemática vai ser difícil, não vão conseguir ser “bons” e a
desmotivar-se.
Não fica fácil a tarefa dos
professores mas no limite e como sempre será a escola a fazer a diferença. Não
podemos falhar.
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