No Observador tropecei com uma
peça sobre a situação das crianças que vivem entre duas famílias n sequência da
separação dos pais.
São abordados alguns riscos e
questões a considerar mas também se refere que não existe nenhuma determinação
no sentido de que não corra bem.
No entanto, sabemos que por vezes
não é assim e que muitos processos são verdadeiras fontes de sofrimento para
adultos e crianças.
Defendo sempre que é preferível
uma boa separação a uma má família. Muitos casais, com o alibi da protecção dos
filhos mascaram uma relação que já não existe mas que se sentem incapazes de
dar fim. Vivem, por assim dizer, "casados por fora e descasados por
dentro", o que não passa, evidentemente, despercebido aos filhos.
Por outro lado, tem vindo também
a verificar-se crescentemente situações de casais que, apesar de separados,
continuam a coabitar o mesmo espaço ou que nem sequer assumem a separação, que
poderá implicar, quando existem filhos, algumas ansiedades e inquietações nos
pais sobre a forma de lidar com um contexto em que aparentemente existe uma
família, quando na verdade já são duas com uma ou mais crianças entre elas.
A verdade é que as crianças e
adolescentes também percebem, sentem, muito bem quando as coisas se alteram,
quando os pais apenas “estão casados por fora”.
Como disse, em boa parte das
situações as coisas correm bem mas a convivência de um grupo de pessoas que não
se separa e já não é uma família pode conter alguns riscos de insegurança e
instabilidade para os mais novos tal como mal-estar nos adultos por mais
fingimento que se possam mobilizar.
Neste contexto, importa estar
atento e a experiência diz-me serem frequentes as situações de separação em que
os adultos sentem insegurança e ansiedade e até exprimem a necessidade de
ajuda. Acresce que as questões à família às novas famílias são ainda objecto de
discursos muito contaminados pelos sistemas de valores éticos, morais,
religiosos e culturais.
O volume de opiniões sobre estas situações
é extenso, oscilando entre considerações de natureza moral e/ou ética e um
entendimento científico sobre a forma como as famílias e sobretudo as crianças
e jovens lidam ou devem lidar com as circunstâncias. Por mim, creio “apenas”
que o(s) ambiente(s) familiar(es) deve ser suficientemente saudável para que a
criança se organize também saudavelmente e faça o seu caminho sem uma excessiva
preocupação geradora de ansiedade e insegurança em todos os envolvidos, miúdos
e graúdos.
Há que estar atento e perceber os
sinais que as crianças mostram e, na verdade, com alguma frequência, os pais
estão tão centrados no seu próprio processo que podem negligenciar não
intencionalmente a atenção aos miúdos e à forma como estes vivem a situação.
Pode ser necessário alguma forma de apoio externo mas sempre encarado de uma
forma que se deseja serena e não culpabilizante.
Para ilustrar este universo fica um
desenho, que creio já aqui ter deixado, de uma criança a quem foi solicitado na
escola que desenhasse a sua família e cito uma outra criança que se dizia muito
contente por ter duas férias, uma com cada família.
Acho muito interessante que as
suas duas famílias têm um solzinho que as aquece e aconchega. As crianças são
muito capazes de lidar bem com duas famílias
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