No âmbito do Dia Mundial da Síndrome
de Down alguma imprensa dedica espaço às circunstâncias de vida de pessoas com
esta condição.
Algumas dessas peças
direccionam-se para mostrar como são capazes de aceder a estilos
de vida “normais”, emprego por exemplo e, imaginem, desempenhar bem as funções
que delas se esperam.
O teor de boa
parte destas notícias mostra um dos aspectos mais gravosos no quotidiano e
qualidade vida destas pessoas, sobretudo quando têm algum tipo de deficiência
intelectual. Não acreditamos que sejam capazes, quando se percebe que são … é
notícia.
Algumas notas.
Algumas notas.
A verdade, mais uma vez e
sempre, é que sem ser por magia ou mistério quando acreditamos que as pessoas,
mais novas ou mais velhas, com algum tipo de necessidade especial, são capazes,
não se "normalizam" evidentemente, seja lá isso o que for, mas são,
na verdade, mais capazes, vão mais longe do que admitimos ou esperamos, mesmo
tão longe como qualquer outra pessoa. Não esqueço a gravidade de algumas
situações mas, ainda assim, do meu ponto de vista, o princípio é o mesmo, se
acreditarmos que eles progridem, que eles são capazes de ... , o que fazemos,
provoca progresso, o progresso possível e níveis de realização significativos.
E isto envolve professores do
ensino regular, de educação especial, técnicos, pais, lideranças políticas,
empregadores e toda a restante comunidade.
No entanto, em algumas
circunstâncias o trabalho desenvolvido com e por estes alunos é ele próprio um
factor de debilização, ou seja, alimenta a sua incapacidade, numa reformulação
do princípio de Shirky.
Tal facto, não decorre da
incompetência genérica dos técnicos, julgo que na sua maioria serão empenhados
e competentes, mas da sua (nossa) própria representação sobre este grupo de
pessoas, isto é, não acreditam(os) que eles realizem ou aprendam. Desta
representação resultam situações e contextos de aprendizagem e formação,
tarefas e materiais de aprendizagem, expectativas baixas traduzidas na
definição de objectivos pouco relevantes, que, obviamente, não conseguem
potenciar mudanças significativas o que acaba por fechar o círculo, eles não
são, de facto, capazes. É um fenómeno de há muito estudado.
Mais uma vez. A inclusão assenta
em quatro dimensões fundamentais, Ser (pessoa com direitos), Estar (na
comunidade a que se pertence da mesma forma que estão todas as outras pessoas),
Participar (envolver-se activamente da forma possível nas actividades comuns),
Pertencer (sentir-se e ser reconhecido como membro da comunidade) e Aprender
(como qualquer pessoa potenciar as suas capacidades). Estas dimensões devem ser
operacionalizadas numa perspectiva de diferenciação justamente para que
acomodem a diversidade das pessoas.
É neste sentido que devem ser
canalizados os esforços e os recursos que deverão, obrigatoriamente, existir.
Não, não é nenhuma utopia. Muitas experiências noutras paragens, como a que
serve de base a este texto, mas também por cá mostram que não é utopia.
O primeiro passo é o mais
difícil, tantas vezes o tenho afirmado. É acreditar que eles são capazes e
entender que é assim que deve ser.
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