No JN de ontem fazia-se
referência a um estudo da U. do Minho envolvendo alunos de 490 escolas com a
duração de dois anos segundo o qual os alunos com melhor desempenho escolar,
cito do jornal, “estudam 15 horas semanais para além do horário escolar, não
valorizam outras actividades e revelam pouca criatividade” e 40% têm
explicações.
Ainda de acordo com o estudo serão
alunos que “sabem reproduzir fórmulas mas com pouca criatividade e pouco
raciocínio”.
Não conheço o estudo, vou
procurar fazê-lo, donde não comento as referências do JN. No entanto, a
direcção das conclusões divulgadas sugerem-me umas notas sobre algo que me
causa alguma inquietação e que frequentemente abordo aqui e no trabalho com
pais, a pressão para a excelência nos resultados que se transforma no (quase) tudo da vida de muitas crianças, adolescentes e jovens.
Na verdade, fruto dos estilos de
vida, de alterações nos valores e cultura e das dificuldades genéricas que
enfrentamos, tem vindo a instalar-se de mansinho em muitos pais, e também
dentro das instituições educativas, uma atitude e um discurso de exigência e de
pressão para a excelência no desempenho dos miúdos, centrado sobretudo nos
resultados escolares mas extensível a todas as actividades em que se envolvem,
é preciso ser bom e ser bom a tudo.
A questão não tem, evidentemente,
a ver com a natural atitude de exigência mas um sim com a pressão muito forte
para a produção e alto nível de rendimento e cada vez mais cedo pois, supõe-se,
ganharão vantagens na construção de um futuro onde “os melhores" terão um bom lugar garantido.
Este clima de pressão para
resultados e a forma como o sistema educativo tem sobrevalorizado a medida
contribui para alimentar um ambiente educativo competitivo e selectivo que cria
em muitas crianças uma pressão fortíssima para a excelência dos resultados. Uma outra consequência mais indirecta é a maior dificuldade de estruturar climas inclusivos pois apesar de inclusão significar todos, os alunos com maior dificuldade, qualquer que seja a sua natureza, ficarão ainda mais vulneráveis.
Não é raro, antes pelo contrário,
o estudo refere-o, que depois da escola e de acordo com as disponibilidades das
famílias muitas crianças e adolescentes caminhem para os centros de explicações
que acabam por funcionar como AAE, Ateliers de Actividades Escolares
respondendo como 2 em 1, tomam contas das crianças e melhoram, espera-se, o seu
rendimento escolar.
Acontece que algumas crianças,
por questões de maturidade ou funcionamento pessoal, suportam de forma menos
positiva esta pressão o que poderá gerar o risco de disfuncionamento, rejeição
escolar e, finalmente, insucesso. Este cenário de consequências para alguns alunos pode ainda ser mais grave como os estudos mostram em sistemas educativos bem mais competitivos que o nosso.
A melhor forma de preparar os
miúdos para o futuro é cuidar bem deles no presente, desejavelmente sem faltas,
mas também sem excessos.
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