segunda-feira, 19 de março de 2018

DA PRESSÃO PARA A EXCELÊNCIA


No JN de ontem fazia-se referência a um estudo da U. do Minho envolvendo alunos de 490 escolas com a duração de dois anos segundo o qual os alunos com melhor desempenho escolar, cito do jornal, “estudam 15 horas semanais para além do horário escolar, não valorizam outras actividades e revelam pouca criatividade” e 40% têm explicações.
Ainda de acordo com o estudo serão alunos que “sabem reproduzir fórmulas mas com pouca criatividade e pouco raciocínio”.
Não conheço o estudo, vou procurar fazê-lo, donde não comento as referências do JN. No entanto, a direcção das conclusões divulgadas sugerem-me umas notas sobre algo que me causa alguma inquietação e que frequentemente abordo aqui e no trabalho com pais, a pressão para a excelência nos resultados que se transforma no (quase) tudo da vida de muitas crianças, adolescentes e jovens.
Na verdade, fruto dos estilos de vida, de alterações nos valores e cultura e das dificuldades genéricas que enfrentamos, tem vindo a instalar-se de mansinho em muitos pais, e também dentro das instituições educativas, uma atitude e um discurso de exigência e de pressão para a excelência no desempenho dos miúdos, centrado sobretudo nos resultados escolares mas extensível a todas as actividades em que se envolvem, é preciso ser bom e ser bom a tudo.
A questão não tem, evidentemente, a ver com a natural atitude de exigência mas um sim com a pressão muito forte para a produção e alto nível de rendimento e cada vez mais cedo pois, supõe-se, ganharão vantagens na construção de um futuro onde “os melhores" terão um bom lugar garantido.
Este clima de pressão para resultados e a forma como o sistema educativo tem sobrevalorizado a medida contribui para alimentar um ambiente educativo competitivo e selectivo que cria em muitas crianças uma pressão fortíssima para a excelência dos resultados. Uma outra consequência mais indirecta é a maior dificuldade de estruturar climas inclusivos pois apesar de inclusão significar todos, os alunos com maior dificuldade, qualquer que seja a sua natureza, ficarão ainda mais vulneráveis.
Não é raro, antes pelo contrário, o estudo refere-o, que depois da escola e de acordo com as disponibilidades das famílias muitas crianças e adolescentes caminhem para os centros de explicações que acabam por funcionar como AAE, Ateliers de Actividades Escolares respondendo como 2 em 1, tomam contas das crianças e melhoram, espera-se, o seu rendimento escolar.
Acontece que algumas crianças, por questões de maturidade ou funcionamento pessoal, suportam de forma menos positiva esta pressão o que poderá gerar o risco de disfuncionamento, rejeição escolar e, finalmente, insucesso. Este cenário de consequências para alguns alunos pode ainda ser mais grave como os estudos mostram em sistemas educativos bem mais competitivos que o nosso.
A melhor forma de preparar os miúdos para o futuro é cuidar bem deles no presente, desejavelmente sem faltas, mas também sem excessos.

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