domingo, 8 de novembro de 2009

O TEMPO DA AZEITONA

É tempo de apanhar a azeitona no meu Alentejo. O lagar da vila já abriu e agora toca a apanhar. O mestre Zé Marrafa foi adiantando serviço e já lá vão 962 kg. Este é um ano bom de azeite, compensa o do ano passado que não deu para entregar um quilo que fosse para produzir azeite. Assim, depois de ter colhido azeitona que chegue para pisar, retalhar e para conserva agora é para fazer azeite, do bom.
O velho Marrafa tem um entendimento que eu não me atrevo a discutir sobre a apanha da azeitona aqui no monte, simultaneamente procede-se à limpeza das oliveiras. De modo que me transformo num agricultor em apuros, estendem-se os panos, colhe-se a azeitona numa catártica actividade de varejamento, corta-se o que há a cortar nas árvores com a motosserra, ensaca-se e carrega-se no tractor. Depois lá vamos a caminho do lagar para a pesagem e entrega.
O tempo de espera no lagar passa-se nas lérias, hoje até apareceu um bagaço que aqueceu a espera. O tema grande das conversas era o enleio criado sobre a forma como a azeitona seria aceite. Primeiro, não poderia vir em sacas, mesmo sacas limpas e novas. Só a granel nos carros de caixa ou nos atrelados. O pessoal que se tinha preparado com sacas, como eu, protestava, um atrelado podia ter carregado estrume ou adubo e depois trazer azeitona sem problema, eu e os outros companheiros que usámos sacas novas não poderíamos entregar a azeitona. Devem ser as decisões de protecção à lavoura como diz o Dr. Portas, o Paulo.
Como o meu amigo Manel Ilhéu estava no lagar com a sua carrinha de caixa a desenrascar um amigo, já tinha combinado com ele que se não me aceitassem a azeitona sairia do lagar, despejava as sacas para a carrinha dele e voltava a entrar. Mas chegou o bom senso. O engenheiro responsável do lagar depois de consultas telefónicas repôs a possibilidade de entrega da azeitona em sacas desde que de ráfia. Acho bem e lá me safei.
De maneira que nem sei muito bem o que se passou no país e o corpo não se cala a pedir descanso.
Só lá para o fim de Janeiro, quando voltar ao lagar para buscar o azeite novo, com o ambiente quentinho das enormes salamandras que impede o azeite de coalhar e o cheirinho do azeite novo é que me vou esquecer das agruras da apanha da azeitona e que ainda não terminou.

2 comentários:

Maria T. disse...

Este texto fez saudade dos meus 12/13anos. O meu pai tinha um olival e fazia-se tudo igual ao que descreveu. Eu (a segunda mais nova de alguns filhos)varejáva os pequenos ramos que o meu pai cortava, as mais velhas apanhavam a azeitona do chão, antes de por o pano...Deitava-me no pano, no meio das azeitonas, a olhar o ceu infinito e "viajava" enquanto o meu pai arrastava o pano para a oliveira seguinte... Tudo acabou...Os 12 anos...O meu pai partiu...O olival foi vendido... Fica a saudade da apanha da azeitona em familia...experiencia boa...

Zé Morgado disse...

Sorte a minha que ainda apanho a azeitona e vou ao lagar buscar o azeite.
Também se vive com a memória.