sexta-feira, 25 de abril de 2008

UMA ESCOLA LÁ PARA TRÁS NO TEMPO

Lá para trás no tempo havia uma escola. Não era grande, nem pequena, era triste. A maioria das pessoas que por lá andavam era, naturalmente, triste. Mal se podia sair da escola para conhecer outras pessoas ou outras escolas, só mesmo quando se fugia daquela. As pessoas que mandavam na escola estabeleciam o que toda agente tinha de fazer, dizer e pensar. Quem pensasse, dissesse ou fizesse diferente podia até apanhar castigos, mesmo os professores, não eram só os alunos. Não se podia inventar histórias, as pessoas contavam só histórias já inventadas. Às vezes, os miúdos e os professores, às escondidas, inventavam histórias novas. A música que se podia ouvir naquela escola era uma música triste e sem graça, mas algumas das pessoas da escola conseguiam fazer umas músicas bonitas que se cantavam baixinho para as pessoas que mandavam na escola não ouvirem. Essas pessoas também queriam que não se soubesse o que se fazia e acontecia noutras escolas, por isso, os jornais que se faziam nas turmas da escola só podiam dar as notícias que eram autorizadas por quem mandava. E só se podiam ler os livros que existiam lá na escola. De vez em quando havia alguns alunos, professores ou outras pessoas que protestavam contra alguma coisa e lá iam para o castigo.
Eu andei naquela escola lá para trás no tempo. Por isso, quando falam da escola hoje, penso, nunca mais voltarei a andar naquela escola.

2 comentários:

Elfrida Matela disse...

Eu também andei nessa mesma escola, mas, ao contrário do que acontecia com outras pessoas, eu não tinha consciência de quão triste a escola era e de quão tristes eram as pessoas que por lá andavam, alunos, professores, funcionários. Eu não conhecia nada mais para além dos muros da escola e não sabia que algures havia escolas onde as coisas eram diferentes, onde tudo podia ser diferente e as pessoas menos tristes. Eu achava que as coisas na minha escola eram assim porque não podiam ou não tinham de ser de outro modo. Era o estado natural das coisas. Eu não tinha aquilo que hoje está na moda chamar-se "consciência política". Só depois, muito tempo depois,quando o hoje aconteceu há 34 anos atrás, é que percebi como as coisas poderiam ser realmente diferentes.

Anónimo disse...

Nas pessoas da minha idade é lugar comum terem frequentado escolas iguais.
Os governantes desse tempo diziam que a informação, é o alimento espirítual do povo e deve ser fiscalizada, como todos os alimentos. JURO QUE NÃO TENHO A ASAE EM MENTE!
Criaram também a censura á imprensa, ao cinema, aos livros e a tudo que cheirasse a arte.
Diziam que de fora só poderia vir más influências. As portas fechavam-se, até a das escolas.
A inteligência, a cultura e a coragem eram odiadas!
A liberdade era um previlégio de classe.
Quem lutasse pela liberdade estavam mortos uns, destroçados outros, asfixiados todos.
Parece que não mas estou a falar de escolas iguais a essa sua escola triste.

Saudações