segunda-feira, 28 de abril de 2008

O HOMEM DO AVESSO

Era uma vez um Homem que vivia do avesso, diziam as pessoas. Tudo começou cedo. Em pequeno o Homem chorava e fazia birras e os pais exclamavam “é mesmo ao avesso, não se cala com nada”. Ao entrar na escola, a situação manteve-se pois o Homem tinha tendência para fazer ao contrário do que lhe pediam, falava quando era para estar calado, imaginava quando era para copiar, protestava com facilidade e ria-se quando devia estar sério. Os professores sempre acharam que tinham um aluno do avesso. Quando acabou de crescer do avesso continuava, diziam. Arranjou um emprego esquisito, ganhando pouco, mas também trabalhando pouco, para ter tempo para ler. Ainda protestava, quando o tempo era de estar calado. Aliás, passava o tempo a dizer que as pessoas se calavam a tudo o que lhes acontecia. Nunca teve um carro e passava as curtas férias num banco de jardim onde continuava os seus protestos. Toda a gente achava que o Homem continuava do avesso.
Um dia, cansado, resolveu calar-se definitivamente. Ninguém mais lhe ouviu uma palavra. As pessoas afirmavam, “agora é um tipo às direitas” e o Homem ficou infeliz para sempre.

2 comentários:

Elfrida Matela disse...

Porque será que só são válidas e aceites as pessoas que agem em conformidade com as normas socialmente instituídas? Porque será tão difícil aceitar as diferenças? Onde está a felicidade? O que é ser feliz? A pressão social consegue ser esmagadora...
Este texto fez-me lembrar José Régio:
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura Ninguém me diga: "vem por aqui"!(...)
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

Anónimo disse...

Todo o homem sabe o que tem mas os outros não sabem o que ele vale...


Saudações