terça-feira, 1 de abril de 2008

UM PAÍS À BEIRA DE PRESCREVER

O Correio da Manhã titulava hoje que milhares de multas estarão à beira da prescrição. É grave sobretudo pelo impacto que este fenómeno tem na nossa confiança na administração da justiça. No entanto, preocupa-me bem mais a ideia de que parecemos um país à beira da prescrição.
Parece estar a prescrever a confiança no futuro.
Parece estar a prescrever a confiança em políticos competentes e eticamente sérios.
Parece estar a prescrever a esperança numa justiça acessível, célere e … justa.
Parece estar a prescrever a confiança na capacidade de convergirmos para melhores níveis de desenvolvimento, bem-estar e qualidade de vida.
Parece estar a prescrever a esperança numa justiça fiscal equitativa.
Parece estar a prescrever a confiança em que somos capazes de fazer um país de jeito e não só fazermos um Euro 2004 e dez estádios de futebol.
Parece estar a prescrever a esperança dos putos na capacidade de os ajudarem a ser gente.
Parece estar a prescrever a esperança dos velhos numa velhice serena e apoiada.
Parece estar a prescrever a esperança das minorias em tolerância e igualdade de oportunidades.
Parece estar a prescrever a esperança dos jovens em que é possível ter uma família e uma carreira.
Parece estar a prescrever a esperança em que democracia seja mais do que democracia política.
Embora atribua isso à idade, eu próprio já me sinto, por vezes, à beira de prescrever, a paciência.

PS – Por lapso este texto não apareceu ontem como devia

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