quarta-feira, 30 de abril de 2008

O "CHUMBO ESCOLAR", PARTE 2

O trabalho hoje divulgado pelo Público sobre os “chumbos” escolares, trazendo de novo a pertinente abordagem ao impacto financeiro do “chumbo”, reforça o que de há muito se sabe e que aqui já abordámos. Os estudos internacionais mostram que Portugal tem ao mesmo tempo, surpreendentemente para alguns, níveis altíssimos de insucesso e níveis altíssimos de “chumbos”. No mesmo sentido parece importante sublinhar que os países com mais altas taxas de sucesso escolar não prevêem na organização dos seus sistemas a figura "chumbo", sobretudo para alunos mais novos. É interessante recordar que o Público, há uns meses atrás, ouviu um elemento da Embaixada da Finlândia sobre as eventuais razões para o seu baixíssimo insucesso. O elemento ouvido referiu como bases do sucesso, “diagnóstico precoce de problemas e dispositivos de apoio a todos os alunos”, “orientação e aconselhamento a todos os alunos ao longo do ensino básico” assegurando “bem-estar físico, psicológico e social”.
Os estudos internacionais também mostram que os alunos que começam a chumbar, tendem a continuar a chumbar, ou seja, a simples repetição do ano, não é, para muitos alunos, suficiente para os devolver ao sucesso. Os franceses utilizam a fórmula “qui redouble, redoublera” quando se referem a esta questão. Não se prova, portanto, a ideia de que reprovar mais, produz mais sucesso, sobretudo quando chumbar é apenas uma medida administrativa.
A grande questão é pois, se não “chumbamos”, ou mesmo chumbando que fazer no sentido de contrariar a “fatalidade” das estatísticas. Por comparação ainda com o que se passa na Finlândia, em Portugal, frequentemente, não se procede ao “diagnóstico de dificuldades”, estabelece-se a impressão de que “se não aprende é porque não tem capacidades ou a família não funciona” pois não existem, na maioria das escolas, recursos qualificados e organizados de apoio educativo para este diagnóstico e consequente intervenção. Daí os planos de recuperação que a legislação prevê, serem, frequentemente, um enunciado de lugares comuns do tipo “dever ser assíduo” ou “deve fazer os trabalhos de casa”. Depois vem o “chumbo”, a seguir “mais do mesmo”, novo “chumbo”, e o aluno entra na estatística do insucesso e/ou abandono. Por curiosidade, em 2006, (a situação não se alterou) e segundo relatório do ME, existiam 519 serviços de psicologia e orientação no subsistema oficial. Este número significa 640 técnicos, um serviço por cada 26 escolas, um técnico por cada 2317 alunos. Elucidativo e animador, o apoio e orientação disponíveis para os alunos.

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