Há uns dias encontrei na imprensa um trabalho sobre o ensino profissional no qual presidente da Associação Nacional de Escolas Profissionais afirmava existir uma taxa de empregabilidade a rondar os 90% e a possibilidade de o ensino profissional receber mais alunos para além dos actuais cerca de 40000.
Não conheço outros indicadores, recordo que o relatório “Monitor da Educação e da Formação 2020” divulgado em 2021” pela Comissão
Europeia referia uma taxa de empregabilidade de 76% em 2019 no ensino profissional.
Por outro lado, o Relatório
‘Avaliação do Contributo do PT2020 para a Promoção do Sucesso Educativo,
Redução do Abandono Escolar Precoce e Empregabilidade dos Jovens’, produzido pelo
consórcio ISCTE, IESE e PPLL, referia que no ensino profissional, 87 em cada
100 alunos completa o ensino secundário enquanto nos Cursos
Científico-Humanístico serão 57. Quanto à empregabilidade, 54% dos alunos que
completam os Cursos Profissionais encontram trabalho até seis a nove meses depois, face a 36% nos
Cursos Científico-Humanísticos.
Estes indicadores mostram a
importância que pode assumir o ensino profissional que, do meu ponto de vista,
continua subvalorizado contrariamente ao que se verifica noutros países.
Algumas notas.
É imprescindível que ao sair do
sistema educativo os jovens ao sair do sistema se encontrem equipados com
qualificação profissional, quer ao nível do ensino secundário, quer ao nível do
ensino superior que com o trabalho no âmbito do ensino politécnico tem
condições para processos de qualificação mais curtos e mais diversificados.
Assim, tenho registado os avanços realizados na diversificação da ofertam
formativa verificada nos últimos anos apesar de alguns equívocos que geraram a
percepção de uma formação de “segunda” dirigida aos “maus” alunos. Estes
equívocos decorreram também dos discursos e procedimentos adoptados em muitas
escolas e envolveram alunos e famílias.
No universo da educação em
Portugal, depois de Abril de 74, instalou-se uma das mais generosas e ingénuas
ideias que o tempo das utopias gerou, todos os indivíduos deveriam ter formação
universitária. Esta ideia, de consequências devastadoras, quis combater a marca
de classe presente nas escolhas entre liceu e escolas industriais e comerciais
e, sobretudo, o baixo número de alunos que continuavam a estudar. O resultado
foi criar um percurso que todos deveriam seguir e que só terminaria no fim do
ensino superior universitário.
Com o aumento da escolaridade
obrigatória e o aumento exponencial do número de alunos começou a perceber-se o
erro trágico de um só percurso, muitos alunos “chumbavam” e abandonavam o
sistema sem qualquer tipo de qualificação. Aliás, mesmo completando o ensino
secundário, o 12º ano, as competências profissionais eram nulas, isto é, o 12º
apenas ensinava, e mal, a continuar a estudar, coisa que, entretanto, era
dificultada com a figura (lembram-se?) do "numerus clausus".
A partir de certa altura,
timidamente, começaram a surgir ofertas de vias profissionais que, por má
explicação política, foram sobretudo entendidas como uma estrada por onde segue
quem não tem "jeito" ou competência para estudar. Neste contexto,
famílias e alunos sentiram dificuldade em aderir a algo percebido como sendo de
segunda. Entretanto, o nível inaceitável de chumbos e abandono no secundário
continuava a envergonhar-nos.
Nos últimos anos, temos
finalmente assistido a uma significativa diferenciação da oferta educativa,
sobretudo depois do 9º ano, e essa oferta começa agora a perceber-se como uma
alternativa à continuação de estudos mais prolongada, o ensino superior
politécnico ou universitário. A oferta actual é bastante mais extensa o que tem
contribuído para a descida muito significativa do abandono escolar. Por outro
lado, o crescimento exponencial da oferta tem vindo a levantar algumas reservas
face à natureza da oferta formativa e à qualidade da formação providenciada e
ainda não se conseguiu alterar significativamente a perspectiva desvalorizada
de muitos professores, alunos e famílias.
Como muitas vezes tenho afirmado
é fundamental diversificar a oferta formativa, ou seja, promover a
diferenciação de percursos. Só por esta via me parece possível atingir um
objectivo absolutamente central e imprescindível, todos os alunos devem aceder
a alguma forma de qualificação, única forma de combater a exclusão e responder
mais eficazmente à principal característica de qualquer sala de aula actual, a
heterogeneidade dos alunos. O desenvolvimento deste trajecto precisa de ir
contrariando a ideia de que não se destina preferencialmente aos "que não
servem" para a escola.
Precisamos, pois, de responder às
exigências de qualificação, mas não podemos mascarar as estatísticas empurrando
os “maus” para percursos que “recebem” um rótulo de “segunda” pois são
percebidos por parte da comunidade como destinados aos menos dotados,
“preguiçosos” ou com problemas vários.
Por outro lado, esta oferta deve
ser adequada às comunidades educativas e dotada dos recursos e meios
necessários bem como de maior e efectiva autonomia das escolas. Como tem sido
referido em diferentes avaliações e pelas direcções escolares esta situação
está longe de acontecer.
A diferenciação dos percursos é
necessária e imprescindível, incluindo, obviamente, o ensino profissional tendo
como potenciais destinatários todos os alunos como se verifica na maioria dos
sistemas educativos que se preocupam com os alunos, com todos os alunos.
O que deve estar disponível desde
sempre são dispositivos de apoio suficientes, competentes e oportunos a alunos
e professores e formas de diferenciação que melhor permitam acomodar melhor a
diversidade dos alunos.
Finalmente, é fundamental para
todo o sistema educativo, importa que existam dispositivos de regulação que
sustentem e promovam a qualidade da desta indispensável oferta educativa dado o
seu papel na construção de projectos de vida bem-sucedidos.
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