A propósito do texto de Marco Bento no Público, “Uma escola de (des)equilíbrios!” que merece leitura e reflexão e apesar de não ser um especialista nesta questão (como o Professor Marco Bento), retomo algumas umas notas no mesmo sentido, a tentativa de um olhar equilibrado sobre a utilização das tecnologias digitais nos processos de ensino e aprendizagem.
Apesar do seu enorme potencial as ferramentas digitais não
são a poção mágica para o ensino e aprendizagem. Os computadores ou tablets na sala
de aula, os smart boards, ou outros recirsos da mesma natureza, não promovem sucesso só pela sua existência. A forma
como são utilizados por professores e alunos é que potencia a qualidade e os
resultados desse trabalho. Aliás, o mesmo se pode dizer de qualquer outro
recurso ou actividade no âmbito dos processos de aprendizagem.
Sublinho, no entanto, os múltiplos estudos e experiências que valorizam este recurso nos processos de ensino e aprendizagem o que torna imprescindível
garantir o acesso ao digital pela generalidade dos alunos, professores e
escolas. A não ser assim, comprometemos equidade e qualidade na educação.
Neste contexto e como já tenho afirmado, considerando o que
se sabe em matéria de desenvolvimento das crianças e adolescentes, dos
processos de ensino e aprendizagem e da sua complexa teia de variáveis, das
experiências e dos estudos neste universo, mesmo quando aparentemente contraditórios:
1 – O contacto precoce com as tecnologias digitais é, por
princípio, uma experiência positiva para os alunos, para todos os alunos, se
considerarmos o mundo em que vivemos e no qual eles se estão a preparar para
viver. Nós adultos ainda estamos a pagar um preço elevado pela iliteracia, os
nossos miúdos não devem correr o risco da iliteracia informática. Os tempos da
da pandemia mostraram isso mesmo.
2 – O computador/tablet, kits robóticos, smart boards, etc.,
na sala de aula são mais uma ferramenta, não são A ferramenta, não substitui a
escrita manual, não substitui a aprendizagem do cálculo, não substitui coisa
nenhuma, é “apenas” mais um meio, muito potente sem dúvida, ao dispor de alunos
e professores para ensinar e aprender e agilizar o acesso a informação e
conhecimento.
3 - O que dá qualidade e eficácia aos materiais e
instrumentos que se utilizam na sala de aula não é a tanto a sua natureza, mas,
sobretudo, a sua utilização, ou seja, incontornavelmente, o trabalho dos
professores é uma variável determinante. Posso ter um computador para fazer
todos os dias a mesma tarefa, da mesma maneira, sobre o mesmo tema, etc.
Rapidamente se atinge a desmotivação e ineficácia, é a utilização adequada que
potencia o efeito as capacidades dos materiais e dispositivos.
4 - Para alguns alunos com necessidades especiais o
computador pode ser mesmo a sua mais eficiente ferramenta e apoio para acesso
ao currículo.
5 – Para além de garantir o acesso dos miúdos aos materiais
é obviamente imprescindível promover o acesso a formação e apoio ajustados aos
professores sem os quais se compromete a qualidade do trabalho a desenvolver
bem como, evidentemente, assegurar as condições exigidas para que o material
possa ser rentabilizado.
6 – Finalmente, como em todo o trabalho educativo, são
essenciais os dispositivos de regulação e avaliação do trabalho de alunos e
professores.
7 – Tudo isto considerado a escola pública deve promover até
ao limite a universalidade do acesso a estes dispositivos. Sim tem custos, mas
a exclusão sai mais onerosa.
Como referi acima, não existem poções mágicas em educação por
mais desejável que possa parecer a sua existência. Não deixemos que o fascínio
deslumbrado pelas "salas do Futuro" faça esquecer os problemas do
presente.
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