No Público encontrei uma crónica de João da Silva, muito bonita, “Uma escola reabriu no Alentejo. Em Cabrela, escreveu-se o mais bonito dos poemas”. O texto assinala e festeja a reabertura da escola do 1º ciclo de Cabrela, Montemor-o-Novo.
Tal como me entristeceu e questionei o movimento de encerramento
de escolas iniciado há uns anos, também me alegro com esta reabertura. Não será
significativa para o país, mas é essencial para a comunidade como se sublinha
no texto.
Retomo umas notas sobre esta questão do encerramento de
escolas que também está associado à criação de mega-agrupamentos que, muitos
deles, se transformam em mega-problemas, mas esta é uma outra matéria.
Muitas das questões que se colocam em educação, como noutras
áreas, independentemente da reflexão actual, solicitam algum enquadramento que
nos ajudem a melhor entender o quadro temos no momento.
Como já tenho escrito a este propósito, durante décadas de
Estado Novo, tivemos um país ruralizado e subdesenvolvido. Em termos educativos
e com a escolaridade obrigatória a ideia foi “levar uma escola onde houvesse
uma criança”. Tal entendimento minimizava a mobilidade e a abertura de espírito
algo a evitar. No entanto, como é sabido, os movimentos migratórios e
emigratórios explodiram e o interior entrou em processo de desertificação o
que, em conjunto com a decisão de política educativa referida acima, criou um
universo de milhares de escolas, sobretudo no 1º ciclo, com pouquíssimos
alunos. Como se torna evidente e nem discutindo os custos de funcionamento e
manutenção de um sistema que admite escolas com 2, 3 ou 5 alunos, deve
colocar-se a questão se tal sistema favorece a função e papel social e
formativo da escola. Creio que não e a experiência e os estudos revelam isso
mesmo. Parece, pois, ajustada a decisão de em muitas comunidades proceder a uma
reorganização da rede.
É também verdade que muitas vezes se afirma que a “morte da
escola é a morte da aldeia”. No entanto, creio que será, pelo menos de
considerar, que os modelos de desenvolvimento económico e social promovem a
litoralização e desertificação do interior. Apostas políticas erradas não
contrariam este processo, antes pelo contrário, promovem-no fechando os
equipamentos sociais, incluindo as escolas, uma das formas evidentes de fixação
das pessoas. Cria-se assim um ciclo sem fim, as pessoas partem, fecham-se
equipamentos, as pessoas não voltam ou continuam a partir. E este processo de definhamento
vai-se alastrando. Aliás o texto salienta como com a reabertura da escola
contribui para fixar e atrair famílias.
Torna-se fundamental e urgente a coragem e a visão para
outros caminhos.
Por outro lado, como referia acima, a concentração excessiva de alunos em centros educativos ou mega-agrupamentos não ocorre sem riscos, tornam-se mega-problemas. Para além de aspectos como distância a percorrer, tipo de percurso e apoio logístico, importa não esquecer que escolas demasiado grandes são mais permeáveis a insucesso escolar e exclusão, absentismo, problemas de indisciplina e outros problemas de natureza comportamental como bullying
Neste cenário, a decisão de encerrar escolas não deve ser vista exclusivamente do ponto de vista administrativo e económico, não pode assentar em critérios generalizados esquecendo particularidades contextuais e, sobretudo, não servir como tudo parece servir em educação, para o jogo político.
Sem comentários:
Enviar um comentário