Foi divulgado o resultado de um inquérito, “Comportamentos Aditivos aos 18 anos: consumo de substâncias psicoativas", realizado pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências junto de jovens com 18 anos que participaram no Dia da Defesa nacional em 2021.
Alguns indicadores. Em cada 10 jovens, 9 consumiram álcool,
5 consumiram tabaco e 2 a 3 consumiram uma substância ilícita (canábis, predominantemente)
nos últimos 12 meses.
Também três em cada dez revelaram sentir alguns dos
problemas identificados no questionário, predominando o mal-estar emocional.
Os jovens do género masculino, os que têm mais baixa
escolaridade e os trabalhadores-estudantes, consomem mais frequentemente e
revelam passar por mais problemas que atribuem aos consumos.
Trata-se, de facto,
de um cenário que merece atenção e retomo algumas notas envolvendo os consumos
de adolescentes e jovens.
O consumo de diferentes substâncias, em quantidade e em
grupo por adolescentes e jovens, sobretudo ao fim-de-semana, é muitas vezes
entendido e sentido como o factor de pertença ao grupo, potenciando a escalada
desse consumo, juntos bebemos ou fumamos mais do que sós, como é óbvio e o
"estado" que se atinge é sentido como um "facilitador"
relacional.
Por outro lado, a acessibilidade aos diferentes produtos não
é complicada, antes pelo contrário, processa-se com a maior das facilidades.
Muitos adolescentes ou jovens, ouvidos em estudos nesta matéria, referem ainda
a ausência de regulação dos pais sobre os gastos, sobre os consumos ou sobre as
horas de entrada em casa, que muitas vezes tem que ser discreta e directa ao
quarto devido ao “mau estado” do protagonista.
Como é evidente, já muitas vezes aqui o tenho referido com
base na minha experiência de contacto com pais de adolescentes, não estamos a
falar de pais negligentes. Podem acontecer situações de negligência, mas, na
maioria dos casos, trata-se de pais que sabem o que se passa, “apenas fingem”
não perceber desejando que o tempo “cure” porque se sentem tremendamente
assustados, sem saber muito bem o que fazer e como lidar com a questão.
De fora parece fácil produzir discursos sobre soluções, mas
para os pais que estão “por dentro” a situação é muitas vezes sentida como
maior que eles.
É preciso que a comunidade esteja atenta a estes
adolescentes que, por vezes ainda antes dos 13 ou 14 anos começam a “aceder” às
“litrosas”, aos shots, a qualquer outro produto para fumar ou consumir e também
aos seus pais que estão tão perdidos quanto eles.
Para além da legislação de natureza proibicionista,
parecem-me imprescindíveis, evidentemente, a adequada fiscalização e, sobretudo
a criação de programas destinados a pais e aos adolescentes que minimizem o
risco do consumo excessivo das diferentes substâncias.
É mais uma das áreas, comportamentos e saúde, que podem ser
abordadas nas escolas com todos os alunos e sem que tenham de se constituir
como “disciplinas” apesar de manifestos e discursos insustentáveis face a
indicadores desta natureza.
Acresce que a proibição, como sempre, não basta e se
prevenir e cuidar é caro que se façam as contas aos resultados do descuidar.
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