De acordo com dados divulgados pela PSP, o volume de episódios de delinquência juvenil registado este ano é inferior ao que se verificava antes da pandemia. No entanto, e preocupante o abaixamento da idade dos envolvidos. Aumentam as ocorrências com a participação de crianças de 11 e 12 anos que recorrem a armas brancas, bastões e barras de ferro, agem sobretudo em grupo e em comportamentos de furto ou confrontos entre grupos e acontecem fora dos espaços escolares.
O comando do Comando
Metropolitano de Lisboa da PSP, relativamente ao ano de 2021, reportou 4.324
casos de crianças e jovens às Comissões de Protecção de Crianças e Jovens. Em
Junho o Governo criou a Comissão de Análise Integrada da Delinquência Juvenil e
da Criminalidade Violenta que em Outubro produziu nove recomendações que serão
incluídas na Estratégia Integrada de Segurança Urbana de que se espera
aprovação pelo Governo.
Deixem-me insistir em duas ou
três notas que retomo de reflexões anteriores.
Os estilos de vida, as exigências
de qualificação têm tornado gradualmente a escola mais presente e durante mais
tempo na vida de crianças e adolescentes e, consequentemente, com reflexos na
educação em contexto familiar.
Creio que já dificilmente se
entende que a “família educa e a escola instrói”.
Creio que já dificilmente se
entende que a escola forma “técnicos” e não cidadãos, pessoas, com
qualificações ao nível dos conhecimentos em múltiplas áreas. Aliás, se bem
repararem falamos de sistemas de educação e não de sistemas de ensino e ainda
bem que assim é.
Creio que já dificilmente se
entende que o conhecimento é asséptico. O conhecimento, a sua produção e a sua
divulgação, tem, deve ter, sempre um enquadramento ético e não é imune a
valores.
Creio que os tempos mais recentes
são elucidativos de como a abordagem de matérias como Direitos Humanos;
Igualdade de Género; Interculturalidade; Desenvolvimento Sustentável; Educação
Ambiental; Saúde; Sexualidade; Media; Instituições e Participação Democrática;
Literacia Financeira e Educação para o Consumo; Segurança Rodoviária; Risco,
Empreendedorismo; Mundo do Trabalho, Segurança defesa e paz, Bem-estar animal e
Voluntariado são fundamentais ao longo do processo de formação de crianças,
jovens e adultos.
Nas sociedades contemporâneas um
sistema público de educação com qualidade, desde há muito de frequência
obrigatória e progressivamente mais extenso, é uma ferramenta fundamental para
a promoção de igualdade de oportunidades, de equidade e de inclusão. Uma
educação global de qualidade é de uma importância crítica para minimizar o
impacto de condições sociais, económicas e familiares mais vulneráveis.
Para além dos dados referidos e
relativos à delinquência juvenil, são também preocupantes indicadores relativos
à violência relativos à violência nas relações de namoro entre jovens, sendo
que muitos a entendem como “normal”, tal como inquietam o volume de episódios
de bullying, ou os consumos de álcool ou droga.
Parece-me importante que as
matérias integradas na "Educação para a Cidadania" integrem o
trabalho desenvolvido na educação em contexto escolar. Com o mesmo objectivo
será importante o desenvolvimento de programas de natureza comunitária
envolvendo diferentes áreas das políticas públicas.
Precisamos e devemos discutir sempre como fazer, com que recursos e objectivos e promover a autonomia das
escolas, também nestas questões. Por outro lado, não acredito na
“disciplinarização” destas matérias, julgo mais interessantes iniciativas
integradas, simplificadas e desburocratizadas em matéria de organização e
operacionalização.
Sabemos que a prevenção e
programas de natureza comunitária, socioeducativa, têm custos, mas importa
ponderar entre o que custa prevenir e os custos posteriores da pobreza,
exclusão, delinquência continuada e da insegurança.
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