No Público divulga-se um projecto de intervenção e investigação desenvolvido por uma equipa da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra dirigido à população de jovens institucionalizados na rede nacional de centros educativos por comportamentos de agressão. De acordo com Diana Ribeiro da Silva o programa gera impacto positivo no quadro de saúde mental e bem-estar dos jovens e está em preparação a sua implementação alargada e a divulgação para outros países.
Há muito pouco tempo abordei aqui a esta questão que, habitualmente,
não faz parte das agendas mais mediáticas, o funcionamento dos centros educativos. Retomo algumas notas.
Em Outubro foi divulgado o relatório da Comissão de
Acompanhamento e Avaliação dos Centros Educativos. Estas instituições acolhem
jovens delinquentes institucionalizados por crimes cometidos antes dos
dezasseis anos.
O relatório produziu uma apreciação muito crítica desde as
condições degradadas das instalações à escassez de técnicos de reinserção
social, mal pagos e sem perspectivas de carreira. Acontece ainda que nem sempre
as decisões dos tribunais são cumpridas.
Este cenário compromete de forma crítica o cumprimento dos
objectivos da Lei Tutelar Educativa que se podem traduzir na construção de um
projecto de reinserção social bem-sucedido para cada um destes jovens.
Como o trabalho agora conhecido muito destes jovens
apresentam problemáticas de saúde mental para as quais urge atenção.
Como já tenho escrito, a prevenção é, naturalmente, a
questão crítica. Neste sentido, um sistema público de educação com qualidade,
com recursos diversificados e competentes e autonomia das escolas, é a melhor
ferramenta de promoção de igualdade de oportunidades, de equidade e de
inclusão. É através de uma educação global que se minimiza o impacto de
condições sociais, económicas e familiares mais vulneráveis e a emergência de
comportamentos mais disruptivos por ausência de projecto de vida. O trabalho agora divulgado sublinha a importância dos contextos de vida destes jovens. Este continua
a ser o nosso caderno de encargos.
Depois de iniciado um trajecto de delinquência importa que
registar que em 2018, um relatório da Direcção de Serviços de Justiça Juvenil
envolvendo os Centros Educativos e das equipas de Reinserção Social referia que
decorridos dois anos do cumprimento de uma medida tutelar de internamento 31%
dos jovens voltam a ser condenados. Se considerarmos a reincidência num período
mais alargado a taxa é ainda maior apesar de alguma melhoria mais recente.
Uma das questões referidas como associadas a este valor
prende-se com a necessidade de garantir a resposta adequada por parte dos
Centros Educativos e do apoio e suporte após a saída da instituição. O
relatório agora conhecido vem mostrar como dificilmente estas necessidades serão
cumpridas.
Múltiplos estudos evidenciam a importância da prevenção, da
integração comunitária e da saúde mental como eixos centrais na resposta a este
problema sério das sociedades actuais. As casas de autonomia, uma intenção
conhecida em 2013 e na lei desde 2015, visam justamente apoiar este processo e
saída dos centros e de promoção de uma reinserção social bem-sucedida. No
entanto, apenas em 2019 e de forma pouco expressiva arrancou o processo de
instalação das primeiras casas de autonomia.
Sabemos que a educação, prevenção e programas comunitários
de reabilitação e integração têm custos, no entanto, importa ponderar entre o
que custa prevenir e cuidar e os custos posteriores do mal-estar e da
pré-delinquência ou da delinquência continuada e da insegurança.
Parece ser cada vez mais consensual que mobilizar quase que
exclusivamente dispositivos de punição, designadamente o internamento enquanto
menor de idade e a prisão para os mais velhos, parece insuficiente para travar
este problema e, sobretudo, inflectir as trajectórias de marginalização de
muitos dos adolescentes e jovens envolvidos em episódios de delinquência.
No entanto, a discussão sobre estas matérias é inquinada por
discursos e posições frequentemente de natureza demagógica e populista
alimentados por narrativas sobre a insegurança e delinquência percebida,
alimentadora de teses securitárias.
Apesar de, repito, a punição e a detenção constituírem um
importante sinal de combate à sensação de impunidade instalada, é minha forte
convicção de que só punir e prender não basta.
É em todo este caldo de cultura que em muitos contextos
familiares vulneráveis nascem e se desenvolvem as sementes de mal-estar que
geram os episódios que regularmente nos assustam e inquietam e com
consequências sérias.
Daí a importância do trabalho desenvolvido e agora divulgado.
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