É a segunda vez em poucos dias que abordo a situação das pessoas com deficiência, mas não posso deixar de o fazer. Os problemas que afectam as minorias têm menor visibilidade e em tempos de dificuldade as pessoas mais vulneráveis estão ainda mais expostas.
De acordo com o relatório “Pessoas com deficiência em Portugal — indicadores de direitos humanos 2021", do
Observatório da Deficiência e Direitos Humanos”, em 2020 a taxa de risco de
pobreza ou exclusão social em agregados de pessoas com deficiência (16-64
anos) era 11,7% superior ao dos agregados da população em geral na mesma faixa
etária (28,5% vs. 16,8%)”. Um outro indicador citado no Público revela que os
agregados de mulheres com deficiência, 26,5%, e os agregados de pessoas com
deficiência grave, 31,5%, eram os grupos que enfrentavam o maior risco de
pobreza ou exclusão social.
A existência da Prestação Social
para a Inclusão contribuindo para minimizar as dificuldades é manifestamente
insuficiente para a protecção dos direitos e qualidade de vida das pessoas com
deficiência.
Num trabalho já com alguns anos e
também citado na peça, divulgado em 2010 pelo Centro de Estudos Sociais da
Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, apontava para que uma pessoa
com deficiência tenha um gasto anual entre 6 000 e 27 000 € decorrentes
especificamente da sua condição e considerando diferentes quadros de
deficiência. Este cálculo ficou incompleto porque os investigadores não
conseguiram elementos sobre os gastos no âmbito do Ministério da Saúde.
O estudo, para além das
dificuldades mais objectiváveis, referenciou ainda os enormes custos sociais,
não quantificáveis facilmente, envolvidos na vida destes cidadãos e que têm
impacto no contexto familiar, profissional, relacional, lazer, etc.
O valor base da Prestação Social
para a Inclusão será cerca de 5.5% dos custos estimados percebendo-se assim a
extrema vulnerabilidade das pessoas com deficiência e dos seus agregados
familiares e os enormes riscos de pobreza.
A vida de muitas pessoas com
deficiência é uma constante e infindável prova de obstáculos, muitas vezes
intransponíveis, em variadíssimas áreas como mobilidade e acessibilidade,
educação, emprego, saúde e apoio social, em que a vulnerabilidade e o risco de
exclusão são enormes. Assim sendo, exige-se a quem decide uma ponderação
criteriosa de prioridades que proteja os cidadãos dos riscos de exclusão, em
particular os que se encontram em situações mais vulneráveis. Omo escrevia há
dias, os direitos não são de geometria variável cumprindo-se apenas quando é
possível.
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