Ontem, a propósito da entrevista de Carlos Neto ao Público e da iniciativa “Escola a Tempo Inteiro”, abordei aqui a questão dos tempos da escola. Apesar disso, retomo a questão.
Com alguma estranheza da minha parte passou despercebida, que
me desse conta, a notícia no CM relativa à apresentação por parte da Confederação
Nacional das Associações de Pais ao Governo de uma proposta defendendo que o
fim das férias escolares dos alunos seja em Agosto.
Não é nada de novo, em 2015 já o Presidente da CONFAP tinha
defendido a existência de apenas um mês de férias para os alunos.
Estranhamente, ou talvez não, vou comentar a proposta de
hoje com o que disse em 2015. No sistema educativo que temos e no modelo de
sociedade em que vivemos proporcionar onze meses de estadia na escola é
insustentável.
É verdade, sentimos todos, que os estilos de vida actuais
colocam graves problemas às famílias para assegurarem a guarda das crianças em
horários não escolares. A resposta tem sido prolongar a estadia dos miúdos nas
instituições escolares radicando, como ontem escrevia, no que considero um
equívoco, o estabelecimento de uma visão de “Escola a tempo inteiro” em vez de
“Educação a tempo inteiro”. A CONFAP insiste neste caminho.
No actual quadro de organização das escolas os alunos podem
estar na escola entre as 8h (ou 7:30 em algumas escolas) e as 19h (19:30 em
algumas escolas), é obra!
É preciso o maior dos esforços, espaços, equipamentos e
recursos humanos qualificados para que se não transforme a escola numa
“overdose” asfixiante para muitos miúdos e um clima pouco positivo de trabalho
para todos profissionais que nela desempenham funções.
É verdade que existem boas práticas neste universo, mas
também conhecemos situações em que se verifica a dificuldade óbvia e esperada
de encontrar recursos humanos com experiência e formação em trabalho não
curricular com crianças a partir dos seis anos.
Acresce que muitas escolas, fruto da concentração de alunos
e do número de alunos por turma, não possuem espaços ou equipamentos que
permitam com facilidade o desenvolvimento de actividades fora do figurino mais
habitual de actividades de natureza escolar.
Em muitas situações, apesar do empenho dos profissionais
(alguns não o são por falta de qualificação adequada), apesar dos alunos
estarem “guardados” o benefício imediato é quase nulo e a consequência a prazo
poderá ser a desmotivação, no mínimo.
Neste quadro, manter aos alunos onze meses na escola é de um
enorme risco.
Creio que a CONFAP andaria melhor se promovesse, dentro das
suas competências, a discussão sobre a organização do trabalho, os horários e
políticas de família, para que as famílias, quando fosse possível
evidentemente, pudessem ter alternativas de horários laborais que lhes
permitissem mais disponibilidade para os filhos.
Seria também de explorar a possibilidade de recorrer a
outros serviços e equipamentos das comunidades, desportivos ou culturais, por
exemplo, que respondessem às necessidades de crianças e jovens e não os manter
na escola, a resposta mais fácil, mas com inconvenientes que me parecem claros.
Aqui sim, parece-me importante o papel das autarquias.
Na mesma lógica da pretensão expressa pela CONFAP por que
não avançar com a proposta de que as escolas estejam abertas, por exemplo, à
sexta à noite de modo a permitir vida cultural ou social dos pais?
Sim, é anedótico e demagógico, mas trata-se de sublinhar
que, por um lado, a escola não pode ser a solução para todos os problemas das
famílias, crianças e jovens e que, por outro lado, nem sempre os interesses dos
pais coincidem com os interesses dos filhos.
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