Nos últimos dois dias registaram-se episódios de violência e agressão entre adolescentes e jovens. Considerando a gravidade, implicações e frequência (apesar dos episódios conhecidos serem apenas uma parte dos que ocorrem), parece-me sempre importante reflectir sobre eles o que me leva a retomar algumas notas.
Os comportamentos agressivos e
abusos entre jovens em contexto escolar, bullying por exemplo, ou fora deles,
na vida nocturna por exemplo, são de sempre ainda que os estudos destes
fenómenos sejam mais recentes. Não sendo também um fenómeno recente importa considerar
o impacto da acção de grupos de adolescentes e jovens, os "gangues",
a que as redes sociais dão amplificação e também alimentam. O volume e a
gravidade de alguns episódios e, sobretudo, a sua mediatização através das
redes sociais acrescentam uma maior visibilidade e preocupação que tem sido
expressa nos mais recentes relatórios sobre segurança.
Na verdade e com alguma
inquietação, em vários estudos ultimamente realizados constata-se que os
adolescentes tendem a encarar a violência entre si e de uma forma geral, como
normal o que não surpreenderá os mais atentos. A sociedade da informação, os
sistemas de valores e um lado B dos actuais estilos de vida a que podemos
acrescentar alguns conteúdos de vídeo jogos ou séries banalizam a violência,
não são os adolescentes que a banalizam embora não esteja a estabelecer
relações de causa e efeito. Acrescem os
contributos advindo de problemas sociais sérios que exclusão, pobreza, ausência
de projectos de vida, etc., alimentam.
Por outro lado, a escola e o meio
circundante, por serem os espaços onde os adolescentes e jovens passam a maior
parte do seu tempo são, naturalmente, os espaços onde emergem e se tornam
visíveis os problemas e inquietações que muitos alunos carregam. No entanto, não é
possível considerar-se que a escola é mágica e omnipotente pelo que tudo
resolverá. Tudo pode envolver a escola, mas nem tudo é da exclusiva responsabilidade
da escola, família e outros actores da comunidade devem assumir
responsabilidades até porque muitos dos jovens participantes nestes episódios
estão já fora da idade de cumprimento da escolaridade obrigatória.
No entanto, sem
desresponsabilizar as famílias importa não esquecer que alguns pais se sentem
tão perdidos quanto os filhos, têm elas próprias dificuldades e
disfuncionalidades que são parte do problema e não da solução pelo que também
elas precisam de apoio, só responsabilizá-las não chega.
No que respeita à violência entre
jovens, um fenómeno complexo, existem ainda duas questões que me parecem
essenciais e contributivas para lidar com a situação. Em primeiro lugar é
importante criar nos adolescentes jovens ou adultos vitimizados a convicção de
que se podem queixar e denunciar as situações e encontrar dispositivos de apoio
que garantam a protecção da vítima pois o medo de represálias é o principal
motivo da não apresentação da queixa, sobretudo entre os mais novos. É
importante também que os actores da escola e da comunidade saibam detectar nos
adolescentes e jovens alunos sinais que indiciem vitimização e mal-estar.
Em segundo lugar, é preciso
contrariar no limite do possível a ideia de impunidade, de que não acontece
nada ao agressor. As escolas, tal como a comunidade em geral, podem e devem
assumir atitudes e discursos que, visivelmente, mostrem um sinal de que não
existe tolerância para determinados comportamentos.
É também importante que famílias,
escolas e demais instituições com intervenção social estejam atentas e que
possam ser dotadas de dispositivos de apoio e recursos suficientes e
competentes que permitam o desenvolvimento de iniciativas no plano da formação
e apoio aos adolescentes e jovens, integrados ou não nos conteúdos
curriculares, que, tanto quanto possível, minimizem o risco de incidentes como
os que têm ocorrido.
Os discursos demagógicos e
populistas não são um bom serviço prestado à minimização destes incidentes que
minam a qualidade cívica da nossa vida.
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